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#013 Mangás e Animes

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013

Mangás e Animes

DonaCast #013 – 23 de julho, 2021

Neste episódio, as donas Janaina Guiotti, Roberta Fabruzzi, Sabrina Ushiwata e Terry Trindade falam sobre a cultura pop japonesa no Brasil, mangás, animes e videogames.

Apresentação e roteiro por Janaina Guiotti e Roberta Fabruzzi

Narração das vinhetas por Raquel Dammous

Transcrição:

Narradora: Você está ouvindo DonaCast. Um podcast produzido pela agência Ô Dona.

 

Ro: Olá, estamos começando mais um episódio do DonaCast eu sou Roberta Fabruzzi.

Jana: E eu sou a Janaína Guiotti.

Ro: Hoje nós vamos falar sobre animes, mangás e games. E o espaço da mulher dentro desse universo que é parte da cultura japonesa mas também bastante popular aqui no Brasil.

Jana: E para bater um papo com a gente sobre isso, estamos recebendo as donas Terry Trindade, que é PO, e a Sabrina Ushiwata, Yuki para os íntimos, que é redatora. Ambas fazem parte da nossa rede de mulheres incríveis.

Bom eu queria saber qual é a relação de vocês com esse universo de mangás, animes e games. Contem um pouquinho para gente.

Yuki: Começa aí Terry.

Terry: Nesse momento que a gente está na pandemia a minha única diversão, digamos assim, eu e meu marido… a gente joga bastante videogame, a gente tem assistido bastante série, bastante anime, então a gente praticamente aí, fora do horário de expediente é o que tem feito a gente distrair um pouco, então… mesmo antes da pandemia a gente já estava bastante inserido nesse universo, a gente é bem nerdzinho, então graças a Deus temos amigos nesse mesmo contexto então dá para compartilhar bastante nerdice aí com todo mundo.

Jana: Bom, um adendo… eu conheço a Terry e a Yuki há uns bons muitos anos e foi justamente por conta deste universo.

Terry: Eu conheci meu marido em um fórum de anime. Então é muito…

Yuki: Olha, falar desse fórum dava tema para um podcast inteiro depois.

Jana: Até eu que não pertencia ao fórum fui envolvida em diversos momentos.

Yuki: Então no meu caso eu sou filha de japoneses, minha mãe nasceu lá no Japão e eu sempre me senti muito próxima a essa parte de universo pop e cultura japonesa, desde pequenininha. Mas denunciando a idade aqui, pelo que eu me lembro, passava um desenho, que é o Zillion, muito antigo, na Globo. E pelo que eu me lembro foi o primeiro contato que eu tive, era uma criança ainda e eu não entendia nada, absolutamente nada daquele desenho, assisti uma vez e pensei, nossa que diferente né? Tem o olho meio grande assim…

 

Narradora / Abertura de “Zillion” – E a humanidade corria o sério risco de extinção total, mas surge não se sabe de onde, 3 pistolas para ajudar a humanidade, essas misteriosas pistolas possuem o poder da justiça e foram chamadas de Zillion, como uma dádiva superior.

 

Yuki: Mas eu acho que aí o tempo vai passando, o Brasil começou a exibir outros materiais, outros conteúdos, vocês devem saber assim de Tokusatsu, né? Aquela coisa de Jaspion, Changeman, aí quando você é criança você fica maravilhado também com aqueles robôs gigantes, e eu já era ligada nisso nessa época, mas não com aquilo de nossa, eu gosto disso.

Mas aí em 90 e pouco começou um desenho chamado Cavaleiros do Zodíaco, eu sei que vocês conhecem… risos, aí eu percebi que nossa, que demais eu gosto disso. E a partir daí começou… lógico que com o tempo as prioridades mudam e eu me distanciei um pouco mas com essa pandemia, igual a Terry foi a única saída que eu tinha para me distrair um pouco, ver as séries e os animes, jogando um pouquinho também.

 

Ro: Falando de infância, eu lembro da música do Shurato de cor até hoje.

Jana: Shurato, Guerreiras mágicas de Rayearth, Cavaleiros do Zodíaco, YuYu Hakusho, todas essas eu sei cantar.

Terry: Sailor Moon…

Jana: Sailor Moon!

Yuki: Nossa, Sailor Moon!!!

 

Música – Abertura Sailor Moon: Um caleidoscópio é meu coração, luz da lua guie este amor.

 

Ro:Gente, eu ia fazer a próxima pergunta mas eu vou contar que eu fazia ninjutsu na escola do Jiraya,

Jana: Ah, que demais!

Ro: É sério, o grã mestre da minha escola era o ator que ensinava o Jiraya.

Jana: Caramba, que louco!

Terry: Não creio! Caraca!

Ro: É, na Bujinkan. Eu só descobri depois. eu já estava anos na escola mas só descobri depois.

Mas a gente estava falando da infância, e da dificuldade para se identificar porque tem pouca mulher e a representação é geralmente sexualizada, essas coisas. E aí eu queria saber da relação de vocês com isso na infância e hoje se é diferente, se vocês veem uma diferença.

 

Yuki: Bom, quando eu era criança assim, mais nova… eu não percebia, entre aspas, obviamente a gente sabia que personagens principais, os mais fortes eram os homens, né, mas até então eu não me ligava mesmo muito nisso né, acho que foi com o tempo criando essa consciência que eu comecei a perceber porque que as personagens femininas, porque as mulheres eram ou sexualizadas sou eram postas com personagens secundárias. Isso lá nos anos 90, e o Japão também é um país machista, então para eles é normal isso, normal entre aspas, de botar a mulher com papel mais sexualizado objetificando, mas…  porém a gente tem que lembrar também que lá atrás também nos anos 90 existia o início de alguns movimentos, a própria Sailor Moon é uma é um grande exemplo de representatividade da força feminina, então ao mesmo tempo que a gente via muitos papéis ali focados nos homens começaram a surgir ali os conteúdos, os animes e mangás para mulheres. Sailor Moon, Guerreiras Mágicas que a Jana falou né e eu percebi que… percebo que hoje existe mais espaço para as mulheres, é um passo a passo, é um caminho bem devagar, um passo de cada vez e acho que a gente tá conseguindo perceber mais mulheres, mais destaque e mais importância.

Porém, como eu disse, como o Japão é ainda um país bem machista, os avanços são um pouquinho mais devagar, infelizmente, mas eu vejo que é uma crescente, graças às deusas.

Terry: Eu concordo com a Yuki, acho que quando eu era criança né, a gente não tinha muito esses conceitos muito definidos ainda, então a gente assistia na inocência e não percebia essa diferenciação. Conforme a gente vai crescendo, eu fui me incomodando com alguns animes justamente por conta disso, sempre tinha uma personagem legal só que ela sempre era nerfada ou ela nunca era a personagem principal, ou ela nunca era tão forte quanto o personagem masculino principal, então isso foi… com alguns animes foi mudando isso, A própria Sailor Moon traz um um poderio ali diferente, teve outros animes que trouxeram essa força da personagem feminina sem sexualizar a força dela ou os trajes etc, a própria Rayearth é assim então, isso foi até então na época que eu assisti esses desenhos, não tinha essa essa percepção, agora olhando com a visão que a gente conhece agora que a gente começa a perceber isso. Isso aí já vinha ali alguns movimentos lá atrás que vinham com essas mensagens ali de forma mais tímida inicialmente, passando isso que eu acho que  foi trazendo essa essa força aí meio que acabou também moldando um pouco as próprias pessoas ali que acompanhavam a série.

Eu acho que vem ganhando força mas eu concordo com a Yuki no sentido de que o Japão é um país que eu acho que ainda tem muito a evoluir nessa frente, então eu acho que mesmo que coloquem uma personagem feminina, se tiver uma personagem feminina e um masculino, dificilmente ela vai ser tão forte quanto, vai ter uma importância, vai ser a protagonista né? Então por exemplo, Naruto: tem a Sakura e tem o Naruto, o Naruto é o ser Supremo super poderoso lá, e a Sakura teve os seus momentos mas logo na sequência eles já vão lá e nerfam ela de novo. Então tem a personagem aqui que é  para agradar ali o público feminino mas entre priorizar a força do personagem masculino e a da feminina eles sempre vão priorizar o masculino.

E se tem alguma coisa aí que eles vão surpreender porque acho que para surpreender nesse mundo seria algo nesse sentido, essa diferenciação é representatividade.

Jana: eu penso a mesma coisa, eu acho que para a gente que cresceu nos anos 80, 90 que tava acostumada com coisas no Brasil como banheira do Gugu é muito difícil perceber esse tipo de coisa dentro dos animes e tal, nossa infância realmente foi muito ruim nesse sentido acho, acho que as crianças de hoje em dia tem muito mais sorte do que a gente teve. Mas é engraçado que depois que a gente toma consciência disso a gente passa até ter desgosto de algumas coisas que a gente costumava gostar e eu por exemplo, quando era adolescente gostava muito de dois mangás que era Love Hina e Video Girl Ai, hoje se eu pego para olhar isso, eu falo tipo fala mano… isso é tão, tão, tão errado em tantos níveis, que é impossível você deixar uma pessoa ler, sabe? Tanto que eu me desfiz de todos os mangás que eu tinha.

Terry: Eu também gostava destes dois, até mesmo porque na época quando os mangás tomaram força no Brasil, começou com Samurai X, e Sakura Card Captor, aí depois veio o Video Girl Ai e Love Hina e etc. Eram os títulos que a gente tinha para consumir né? A gente gostava disso, gostava de mangá e era o que tinha, então a gente comprava, os olhos brilhavam falando nossa que legal é um mangá deixa eu ler… só que assim né…

Ro: Nem sempre envelhece bem.

Jana: E o pessoal que consome isso não sabe o quanto é difícil para a gente conseguir acessar essas coisas naquela época, tipo para gente assistir algum desenho ou alguma coisa assim, a gente tinha que pegar umas fitas daquelas VHS esse que era passado de mão em mão porque não tinha para vender assim, era muito raro… tinha que ir até a Liberdade caçar alguma coisa que você gostava para comprar, geralmente a gente pegava tipo essas fitas passavam de mão em mão e ia disseminando para as pessoas, era muito pouco conteúdo que chegava para gente. Hoje em dia é muito mais fácil.

Yuki: Com certeza, fiz muitas vezes isso de pegar VHS.

Jana: Várias surpresas sempre!

Terry: É muito no contexto assim de colocar o papel feminino como muito submisso para servir os prazeres ou o personagem ali que eles querem evidenciar né, então… é exatamente quando a gente assistia isso lá atrás, ai que legal até me identificava ali com a personagem, gosto dessa, gosto daquela outra aí hoje, tipo não né!

Ro: Eu acho que dificilmente essas obras passam naquele teste de Bechdel que tem que ter duas mulheres e elas devem estar conversando e não pode ser sobre um homem.

Jana: Ah, isso é até o de menos, as cenas são extremamente sexualizadas, num contexto de comédia mas muito sexualizadas. Você está rindo de uma cena terrível na verdade.

Terry: Exatamente e tudo leva para o mal sentido, por exemplo… passou ali caiu, escorreu, machucou mas vai evidenciar uma posição sexualizada ali, vai dar uma evidenciada num decote que mostra mais, ou a menina vai cair numa posição onde o cara ali vai encostar em alguma parte, é sempre nesse sentido e é sempre a mesma coisa, chega a ser um clichê e a gente fala porra, de novo isso? É sempre isso, vai cair, vai lá com a mãozona no peito da menina, olha lá de novo mostrou a calcinha, poxa… dá para fazer uma coisa mais inteligente.

Ro: Sim, vocês tavam falando no Naruto e Naruto é assim, para criança né… e tinha muito isso na verdade né, e eu lembro de ter muito isso, aquele Jiraya que era o mestre dele, eu não lembro porque eu assistia há muitos anos atrás mas, isso, eram muitos tarados.

Jana: É difícil não ter, tem um desenho que eu não consegui me desapegar dele mas que é bem ruim também nesse sentido, que é o Ranma ½, e mano, tem um mestre lá que rouba calcinha de mulher, você fala, porra… não dá né.

Yuki: Tem o mestre Kame no Dragon Ball também né.

Terry: Tem as coisas que a Jana falou também né, é tão clichê que praticamente acontece em todos os enredos, assim, independente se é de luta… a o Dragon Ball tem lá o Mestre Kame pagando pau para Bulma, você fala, mano, que ridículo… eles tentam levar nesse contexto de que é uma comédia mas..

 

Áudio desenho Dragon Ball:

risos de uma mulher

Mestre Kame: Como essa moça é bonita, Oi, Maron, que surpresa!

 

Jana: Tem uma cena de Dragon Ball Z que se eu não me engano foi cortada, que é o Goku pequenininho vendo a Bulma dormindo de calcinha e ele vai lá dar uns tapinhas nas coisas dela e vê que não tem nada ali, é bem bizarro.

Terry: É, umas coisas assim que você fala, mano, por quê?

Yuki: Eu acho que aí parte do princípio de que o Goku criança, inocente de tudo ali, nunca tinha visto uma menina, uma mulher, então ele fica curioso, ele imagina que ali é como se fosse igual a um homem que tem as coisas ali, e ele percebe que não tem mas, assim, entendo que foi feito na base da comédia e da inocência do Goku mas não precisava chegar neste ponto, não precisava chegar nisso. Tem outras formas de fazer uma comédia, de fazer cenas engraçadas, cômicas e sem estar objetificando, sem estar expondo a mulher desse jeito.

Jana: E é um desenho infantil né, você está fazendo crianças consumirem um negócio que é bem ruim e que prioriza a cultura do estupro até.

Bom, a próxima pergunta que eu tenho é para saber o que vocês acham que o público aceitaria para uma participação mais diversa, como que vocês imaginam que o público lida com essa coisa de diversidade dentro desse mundo de otaku.

Ro: Pensando assim em super heróis por exemplo, Marvel, que não é deste mundo mas a gente vê que tem polêmica quando é um filme protagonizado por uma mulher e tem essa briga, nos games também tem isso… e eu queria saber como vocês veem isso nesse universo…

Terry: Eu acho que por ser um mundo meio fantasioso eu acho que, eu não vejo assim como uma questão de negacionismo, eu acho que é até bem aceito em termos, mas não vejo uma repulsa. Tem alguns gêneros específicos, por exemplo tem yaois, tem ali algumas diferenciações para ter públicos que consomem esse tipo de conteúdo, mas mesmo nos conteúdos mais tradicionais, sempre inserem personagens nesse sentido, então tem ali Dragon Ball com Shu, tem Yu Yu Hakusho com a relação Kurama e Hiei, não é tão exposta mas a gente assistindo agora com uma outra visão um pouco mais

adulta e entendida né… e assim, são personagens maravilhosos e que todo mundo gosta.

 

Yuki: É eu concordo, acho que assim, a cultura japonesa otaku né, é um termo que eu não gosto mas é o que pegou no Brasil, é como esse universo pop de HQ, de Marvel… o público é muito parecido, então há polêmica da protagonista feminina, como da Capitã Marvel que os caras caíram em cima porque ela teve um ou outro posicionamento ali mais feminista, e os fãs, os otakus brasileiros também são assim. Tanto que tem grupos aí que eu vejo de Facebook em que eu vejo muitos comentários ainda que são misóginos machistas, acho que assim, dentro do que se espera aí de um fã homem hetero, sabe? Eu acho que isso ainda tem muito para se caminhar, mas como a Terry disse, na cultura japonesa, nos mangas e nos animes existem termos, existem tipos de conteúdo, tipos de anime, tipos de mangá, tem o yaoi que é o relacionamento entre homens, meninos, garotos… tem o Yuri que é entre mulheres, o Shonen que é direcionado para o um público adolescente masculino e Shojo que é o que Sailor Moon se encaixa, que no caso é para um público mais feminino. Então lá no Japão eles têm eles têm bastante segmentação, não que seja incomum que um grupo consuma  um tipo diferente do qual ele não está inserido né, isso isso acontece, é normal… mas eu acho que por haver essa segmentação, acaba sendo um pouquinho mais até engraçado né, porque o Japão sendo uma sociedade ainda machista,  mas eles são receptivos com relação a isso, é bem contraditório, na verdade.

Terry: Eu vejo uma certa diferença inclusive entre o que a gente chama aqui né de otakus e de… geeks, não sei como que é o termo, mas voltados principalmente para HQ, pelo público de HQ porque, por exemplo, a gente sabe que é comum ter reboots de histórias de heróis no conteúdo e que algumas versões dos heróis são mal recepcionadas pelo próprio público.

Eu já ouvi por exemplo que tem uma das versões do homem-aranha em que ele é negro e já ouvi comentários sobre isso, tem também quando… eu não me lembro agora o nome da personagem mas ela é menina, acho que é o Homem de Ferro e é uma personagem feminina mais nova, não é o Tony Stark.

Então tem esses reboots das séries e a gente vê uma certa resistência até nos próprios consumidores dessas histórias, que tipo, poxa não gostei dessa versão, prefiro a outra lá que o cara é porradeiro.

Ro: Se fosse ao contrário não ia falar nada né?

Yuki: Exato.

Jana: Eu ia falar a respeito desses reboots, não sei se vocês viram o dos Cavaleiros do Zodíaco, e tem algumas alguns personagens que foram transformados em mulher, por exemplo o Shun foi transformado em uma mulher, e nesse ponto eu sou extremamente contra, porque tipo só porque era personagem afeminado e possivelmente gay, nunca fica explícito mas… enfim eles tiveram que transformar em uma mulher? Como assim? Por que um homem não pode ser afeminado?

Yuki: Eles poderiam escolher qualquer outro personagem para transformar em mulher, menos o Shun.

Jana: Exato.

Yuki: Imagina que louco seria transformar o Ikki em mulher?

Jana: Seria bem legal na verdade.

Ro: Eles fizeram mais ou menos isso em Star Trek né? Porque o ator que fazia o Sulu é gay e aí no remake eles fizeram o Sulu ser gay.

Jana: E aí até fugindo desse contexto de HQ e tudo mais, o Harry Potter, quando a J K Rowling disse no Twitter que o Dumbledore era gay causou uma repulsa imensa no público, porque isso não ficou explícito nos livros. Mas e aí, qual é o problema?

Yuki: O que vai interferir na história ali que já está contada?

Jana: Pois é…

Ro: Tipo quando eu descobri que o Salsicha do Scooby-Doo era maconheiro… aquelas né… risos

Terry: O ator maravilhoso que interpreta o Magneto é gay.

Jana: O Sir Ian McKellen

Terry: E assim, maravilhoso, não tem porque algumas pessoas desprezarem ou menosprezarem, é absurdo…

Ro: E a gente tem falado de desenhos mas em games eu acho que é ainda pior.. eu até levantei uns dados que eu vou falar para vocês, porque eu fiquei bem surpresa assim…

Não sei se vocês sabiam que metade dos gamers no Brasil, mais que a metade na verdade, 53,8% . E 69,8% das mulheres no Brasil jogam jogos eletrônicos, mas aí as mulheres tendem a jogar jogos que são casuais e mais no celular, e aí vocês acham que isso é porque esse universo é muito fechado para homens e por conta de marketing essas coisas, ou o que que vocês pensam nesse sentido? Por que as mulheres não jogam tanto, tipo jogam mas não são vistas como gamers…

Terry: eu acho que depende do jogo em si mas eu acho um ambiente tóxico de verdade, porque, por ser mulher os outros jogadores vão menosprezar-lá, vão agredi-la de alguma maneira, não vão querer que ela faça parte da equipe principal, perdeu porque tem uma mulher no time, aí você é mulher então você tem que ser suporte, sabe? Umas coisas assim, já vi alguns comentários assim, já vi relatos de mulheres que streamam seus jogos então enquanto estão jogando mesmo ali no chat estão sendo agredidas verbalmente fortemente, sabe? E então assim eu acho um ambiente tóxico, ele não é um ambiente que a menina que joga e que permanece jogando é porque ela gosta realmente do jogo em si, da  distração e tudo mais, mas eu considero talvez o ambiente não ser tão acolhedor faz com que não seja atrativa. E mesmo uma pessoa, uma mulher que jogue bem, para que ela consiga assim se envolver numa equipe que a aceite e que participe forma natural, sem ser ou por interesse ou por qualquer outro motivo, eu acho que dependendo do jogo é porque não sei todos os jogos mas principalmente esse jogos em equipe né, eu acho que tem essa questão sim que é por isso que faz com que não seja tão atrativo.

Yuki: Sim, mulheres são ainda muito atacadas, eu concordo com tudo que a Terry disse. O ambiente gamer ele consegue na minha visão ser muito mais tóxico, do que o de HQ, eles veem ali uma chance de atacar, de massacrar meninas, as jogadoras, tanto que eu vou dar um exemplo pessoal. Quando a minha sobrinha fez um login ali para jogar online com outros jogadores eu falei não coloca o nome, usa um apelido um nick, ou masculino ou neutro, mas não coloca o seu nome verdadeiro porque se não podem chegar muitas mensagens, muitas coisas negativas para você. E ela já muito consciente disso, graças às deusas já disse, não se preocupa que eu não uso meu nome, eu uso um nome aleatório ali para jogar. Chega a esse ponto né.

Jana: E a gente vê o contrário também, vários homens criando personagens femininas para ganhar itens.

Terry: Exatamente, se passa ali né… nossa, sou uma coitadinha… e a galera cai.

Tem muito isso também né, é mulher que ta jogando? Tá querendo ganhar presentes ou alguma coisa, e não, eu só estou querendo jogar, me deixa em paz. Não é porque eu to falando, que eu to sendo legal com você aqui no jogo que eu to querendo alguma coisa.

Jana: é tem maluco, homem que pertence muito a esse muito também tende a ser uma pessoa extremamente carente, e em geral sempre tem problemas dentro deste universo e desde adolescente a gente sempre enfrentou vários problemas relacionados a isso. Colegas que a gente via como amigo e que confundiam as coisas e acabam extrapolando qualquer coisa dentro do relacionamento que poderia ser amigável mas enfim… acaba não sendo.

Terry: Eu acho que eles se escondem né, é uma máscara, e aí quando volta para o jogo você tá atrás de uma tela, então a pessoa ali não tá te vendo, acho que isso faz com que se cria uma certa coragem ,ou você expõe o seu caráter real né, porque não justifica você ser uma pessoa escrota no jogo se fazer de bonzinho na vida real, então se você tá sendo escroto no jogo é porque na vida real você também é, é que você esconde no jogo, é como você falou, é questão de caráter.

Jana: Bom, e aí para finalizar eu queria fazer uma última pergunta para vocês, como vocês imaginam que a gente pode aumentar nossa participação, tanto em representatividade como no público também para acessar esse tipo de conteúdo?

Yuki: Eu acho que assim, voltando aí para a cultura japonesa né… de mangás e animes, como a gente já tinha até comentado, no começo ali a gente consumia, a gente lia o que tinha disponível, mas de uns anos para cá as editoras – eu voltei a acompanhar cada editora desse nicho de mercado, eles estão trazendo mais títulos variados, se antes o que interessava era só Naruto, era só Cavaleiros, eles começaram a trazer outros títulos, não necessariamente Shoju, que é voltado para o público feminino lá do Japão, mas vários outros tipos de histórias, outros segmentos, outros enredos…  então eu acho que isso é um passo muito importante, eu vi uma live da editora JBC falando exatamente isso que era a intenção deles, eles demoraram anos para trazer porque eles queriam sentir do público, e o público mesmo, os otakus começaram a pedir títulos variados, então eles começaram a trazer novos títulos, vou citar até alguns exemplos que estão para sair… era impensável há 10 anos atrás você trazer um mangá cujo personagem principal era uma gatinha fofinha, e vai sair… dando um exemplo bem simplório mesmo.. então ao mesmo tempo que a gente tá inserido em um ambiente que ainda precisa evoluir nessa questão e que ainda é um pouco machista em alguns aspectos, ao mesmo tempo as pessoas, os fãs estão começando a tomar uma consciência e pedindo por novos conteúdos, eu acho isso muito importante, e eu acho que cabe a nós aqui como uma primeira, segunda geração de fãs, de justamente reforçar isso e contribuir, conversar com essas pessoas, com as novas gerações e os novos fãs. Sobre essa diversidade, tem conteúdo, tem coisa pra todo mundo. É uma questão da gente pedir, eu acho que felizmente está se encaminhando para esse sentido, a passos lentos mas, eu acho que estamos evoluindo.

Terry: Eu concordo com a Yuki, eu acho que a demanda é o que gera, é demandado novos assuntos, novos conteúdos, novos roteiros, e a indústria produz porque afinal de contas ela tem interesse em lucrar com aquilo, então, é por isso que eu acho que é importante essa abertura que as empresas estão procurando com o próprio público, as pesquisas de satisfação, de mercado que eles estão agora mais voltados para isso… antes eu imagino que não deveria ter tanto isso, antes era aquele público ali que gosta de anime… nessa quatro visões segmentadas, yaoi, yuri, shonen e shoju, tá mais hoje em dia não é só mais isso, tem uma série de pessoas e gostos, uma série de outros conteúdos que você precisa disponibilizar para que esses conteúdos eles sejam acessados, né, as próprias pessoas que antes consumiam certo o conteúdo elas cresceram elas não vão mais consumir aquele conteúdo, então esses conteúdos também precisam crescer junto. Então os interesses mudam,  é lógico, eles pensam muito ali em como atingir um público recente, mas e como manter o público que era anterior ali fiel e continuando, consumindo esses produtos? Então acho que envolve muito e é divulgar né é pedir se posicionar, porque as coisas vão vir e vem vindo coisa boa né. O que a Yuki disse né, diferentes roteiros estão sendo trabalhados,  sendo trazidos, o próprio mercado de games também tá trabalhando muito nisso, por exemplo não sei sei se vocês conhecem The Last of Us Part 2, o roteiro é tão interessante justamente porque sai da caixinha ali né, sai do personagem masculino, hétero, branco e muda tudo sabe, então não é mais o personagem principal. Isso é muito interessante porque é um jogo desse nível, desse tamanho de produção ele tem um acesso gigantesco e isso faz com que as pessoas inclusive novos jogadores ou antigos participem disso e consumam esse conteúdo e quem sabe talvez, a gente tem aquela esperança de que vai ali plantando uma sementinha, vai mudando ali algum pensamento ou é uma visão diferente eu não enxergava assim eu tô enxergando diferente, eu tenho esperança como a Yuki disse, aos pouquinhos tá mudando.

Eu acho que vem algumas coisas, a própria empresa percebeu que agora não é só homem e mulher no mercado, então é algo muito maior do que isso então ela também está se, ela precisa se movimentar.

Yuki: Eu acho que como um exemplo aqui só para complementar, existe uma editora Newpop que no começo desse ano ela lançou alguns selos de Mangás, debaixo do guarda-chuva da New pop e um deles é justamente voltado para o público LGBT que eu achei um passo tremendamente importante, tem ali o selo dos mangás clássicos na fração, mas acho que eles entenderam o recado já de alguns anos para cá, e esse ano eles criaram um selo LGBT. Então eu acho que isso mostra um pouco do que o público tá falando e eles estão ouvindo, é muito importante.

Jana: Legal, eu não sabia sobre isso. Eu não consumo mais anime e mangá como consumia quando era mais nova, eu acho que eu fui a desgarrada do grupo, mas eu vejo algumas coisas que estão super incríveis também como qualquer coisa que o universo Ghibli faça, então é voltado para qualquer tipo de público você pode ser adulto, você pode ser criança.. você vai assistir e vai gostar, vai se identificar de alguma forma porque é um mundo de fantasias e é tão incrível que pessoas que não estão muito inseridas dentro desse meio também consomem e gostam, até indicações ao Oscar e coisas do tipo, então acho que é uma empresa que a gente tem que ter como muito carinho aí porque mudou muita coisa.

Terry: Exatamente, Jana! Você falou tudo assim, eu sou totalmente suspeita pra falar de Ghibli, mas assim, enquanto muitos idolatram a Disney, a Disney é maravilhosa… é maravilhosa? É maravilhosa, mas a Ghibli é muito mais!

Ro: Sim, nossa eu sou apaixonada!!!!

Terry: É sensacional, enquanto a Disney estava lá preocupada em colocar suas princesas sempre precisando de um príncipe para salvar e tudo mais, mano, todas as personagens de Ghibli femininas elas não precisam de um homem ali, elas têm a sua autonomia, a sua importância, se envolvem e interagem, e têm as suas motivações diferente de qualquer outra coisa, então por isso que eu digo assim, é anos luz, anos luz…

 

Trecho de Kiki – Kiki: Muito Obrigada por me ajudar, mas eu não lembro de ter pedido a sua ajuda, além disso é falta de educação falar com uma moça sem se apresentar primeiro, humpf.

 

Jana: Só para falar que Sailor Moon também está anos luz na frente da Disney, viu? Porque ninguém ali precisa de macho, muito pelo contrário.

Terry: Fight like a girl.

Yuki: Isso porque Sailor Moon é dos anos 90 né? E foi revolucionário.

 

Ro: Obrigada, de verdade, é muito gostoso bater esse papo assim e a gente tem que manter um segundo episódio com certeza.

Jana: É divertido, esses papos são mais gostosos no bar e eu espero que essa pandemia passe o quanto antes que eu mal vejo a hora de vê-las de novo.

Yuki: Com certeza, vacina para todas!

Terry: Vacina veeem!

Ro: Bom, vocês querem deixar a rede social para alguém seguir vocês?

Terry: Ah eu tenho o canal Bora Otimizar, no instagram, sobre organização e minha rede pessoal não tem grandes coisas mas é Terry Trindade, se quiserem…

Yuki: Meu insta é fechado porque eu nem atualizo muito, então não tem nada de interessante lá eu só vou seguindo vocês para falar a verdade, mas o meu Facebook tá aí, Sabrina Yuki, se quiserem me adicionar vocês vão ver memes praticamente o dia inteiro, para tentar se divertir um pouquinho aí,

Ro: Obrigada gente!

Jana: Obrigada, meninas!

Yuki: Obrigada! Tchau, beijos

Terry! Obrigada Tchau!

 

Narradora: Esse podcast foi produzido pela Agência Ô Dona, uma rede liderada por mulheres, focada em diversidade e inclusão.

Mais informações e transcrição do episódio no nosso site www.odona.com.br

Diversidade de verdade só acontece por meio da inclusão.

 

 

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queer

Dona Jana é executiva de software com mais de 10 anos de experiência em empresas de tecnologia de estágio inicial a intermediário, incluindo gerenciamento geral, liderança em go-to-market e operações internacionais. Atualmente trabalha como presidente da empresa Odona, uma empresa focada em trazer diversidade para o mercado de trabalho brasileiro. Tem paixão por promover uma cultura inspiradora impulsionada por uma mentalidade de pessoas em primeiro lugar, com o objetivo final de fornecer uma experiência de classe mundial para funcionários e clientes. Estou dedicada a investir no crescimento de outras pessoas, operando com integridade e aproveitando a jornada!

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