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012

Arte Mainha – grupo solidário de mulheres artesãs

DonaCast #012 – 25 de março, 2021

Arte Mainha é um grupo solidário de mulheres artesãs,  e um projeto da escola comunitária Jardim do Cajueiro, que fica em Barra Grande, na península de Maraú, na Bahia.

Neste episódio, Janaina Guiotti e Roberta Fabruzzi conversam com Raquel Dammous e Elô Esteves sobre como o projeto tem afetado a vida das mulheres no local, e as dificuldades durante a pandemia de covid-19.

Sobre o Arte Mainha: www.artemainha.com.br

Transcrição do episódio no nosso site www.odona.com.br

Transcrição:

Locutora: Você está ouvindo DonaCast, um podcast produzido pela agência Ô, Dona.

 

Ro: Olá, começando mais um DonaCast, eu sou Roberta Fabruzzi

Jana: E eu Janaína Guiotti

Ro: E hoje a gente vai falar sobre um projeto lindo que acontece no povoado de Barra Grande na Península de Maraú na Bahia.

Jana: O projeto se chama Arte Mainha, é um grupo solidário de mulheres artesãs. E para conversar com a gente sobre o assunto estamos recebendo a Raquel Dammous que é coordenadora do projeto e a Elô Esteves que é psicóloga e facilitadora de processos de gestão.

 

Ro: Primeiro que queria agradecer vocês, bem-vindas!

Elô: Obrigada.

Raquel: Obrigada, é um prazer enorme estar aqui.

Elô: é um prazer também!



Ro: Para a gente começar, só para dar um contexto geral, porque como a gente fala com todo o Brasil e até fora do Brasil… Barra Grande é um povoado pequeno que fica em Maraú na Bahia, e a maior fonte de renda é o turismo, é isso mesmo?

Raquel: É isso mesmo.

Elô: É, a península Maraú é um município de 800 km quadrados, é um município muito grande. A gente aqui em Barra Grande está na ponta da Península de Maraú que de fato é um lugar que sobrevive do turismo, mas tem uma agricultura é uma parte rural do município com a qual a gente não convive muito mais que é Maraú e é uma realidade da região, das mulheres, uma questão social daqui. Então aqui em Barra Grande sim temos o turismo como forma predominante acho que de geração de emprego, de renda, né…

Ro: E aí dentro desse contexto eu queria que vocês contassem um pouquinho como surgiu a ideia do projeto, e aí já emendar e explicar um pouquinho do que que é o Arte Mainha.

Elô: O Arte Mainha é um grupo produtivo de mulheres solidário que nasceu junto com a Escola Comunitária Jardim do Cajueiro em 2006 aqui em Barra Grande, que foi uma iniciativa muito pioneira e que começou de um jeito não muito organizado. São daqueles impulsos e precisam acontecer e tem uma formalização que acontece ao longo dos anos e acho que no Arte Mainha vive hoje em dia um momento assim de uma formalização da iniciativa muito… que começou lá atrás de uma forma assim meio naturalista que era um modo, porque estava sendo criada essa escola que era um jardim de infância Waldorf e tava nascendo assim de um jeito um pouco… com um cunho social diferente de muitas escolas Waldorf que a gente conhece no sudeste.

A Bahia tem uma marca da Pedagogia Waldorf ligada essa coisa mais social então diferente de um grupo de pais que se forma e fala vamos montar uma escola Waldorf, aqui um grupo de pessoas professoras Waldorf que vinham aqui de veraneio e algumas mulheres daqui, com um olhar para a infância e para estas mães que precisavam cuidar dos filhos e ficavam sem tantas condições assim, arrumaram uma casa emprestada e fizeram esses dois jardins-de-infância.

Uma das pessoas assim beneméritas dessa iniciativa que apoiou cedia a pousada dela para que se tivessem reuniões e começar a se pensar isso, tinha uma habilidade com artesanato e começou a propor um encontro entre essas mulheres porque essa proposta da escola, ela era muito legal mas não tinha… para se formar essa egrégora entre as pessoas ali, não é uma coisa assim natural, e ela juntou essas mulheres numa outra casa emprestada e a partir de um ritual que era muito dela, da Simone, ela coava um café e foi ensinando algumas coisas para essas mulheres e foi-se criando ali naquele primórdio 2006 – eu mudei para cá em 2009 então eu conheço essa escola há muito tempo por outros motivos mas eu nem acompanhei esse nascimento assim desse jeito embora tenha ainda pegado reuniões nessa casinha e dessa dessa primeira turma, e temos remanescentes dessas pessoas no grupo até hoje.

Então o Jardim do Cajueiro surgiu para juntar essas mulheres e com esse duplo papel, assim de gerar um pouco de renda para escola mas de gerar uma renda para essas mulheres. E pessoas que contam relatos de lá de trás testemunharam transformações muito interessantes assim, de pessoas puderam se colocar a partir do momento que ela estavam se sentindo à vontade, de dar risada, de falar do casamento, de falar das dificuldades com os filhos… e aprendendo uma nova técnica. E isso foi gerando uma certa renda, então pessoas puderam consertar os dentes e sorrir sem preocupação, sabe? Tem um primeiro momento do trabalho que é esse.

Tem um outro momento, aí a Simone faleceu e essa iniciativa ficou um pouco solta, esse é um grande desafio né, porque o sonho, o objetivo assim mas acho que o sonho… é fazer um grupo que de fato as mulheres possam gerir sozinhas, mas a gente está no lugar que neste primeiro momento tinha um público do Arte Mainha que é muito parecido com a população geral da… a população daqui 46% de índice de analfabetismo, então muito subemprego poucas perspectivas de futuro, eu fiz um trabalho com jovens aqui da rede pública e não se tem muito que sonhar, o que ser… tem os barões que têm pousadas, restaurantes,  e que os trabalham para eles. Então esse tipo de transformação social é muito ambiciosa no sentido né, a gente faz uma coisa pequenininha mas mirando nessa coisa maior.

Então o Arte Mainha vem sempre muito ligado ao Jardim do Cajueiro, e num segundo momento na figura de uma outra mulher, que era uma pessoa que era muito hábil com trabalhos manuais e também era mãe do Jardim do Cajueiro e que foi congregando as mulheres e elas fizeram bonecas Waldorf, fizeram cursos, tiveram uma lojinha, foram momentos também muito, de uns dois três anos bem produtivos –  e de novo deu uma minguada quando essa pessoa não tava mais mais um pouco para sustentar o grupo. E aí a partir dessas experiências sempre ficou a vontade de retomar o Arte Mainha, mas com esses aprendizados também, com um aprendizado de que é preciso então criar uma condição para que as pessoas se apropriem do grupo, é preciso que as oficineiras sejam remuneradas, é preciso poder contratar pessoas que cuidam de comunicação que coordenem o projeto, então como fazer desse modo. Falei de coordenar o projeto e agora lembrei da Raquel que coordenou o projeto e não era uma pessoa contratada.

Tem uma preocupação também com a saúde financeira da escola e o que cada um pode ser voluntário de alguma forma, mas até que um dia a gente ficava… esse projeto Arte Mainha, ah, queria voltar o Arte Mainha. Vamos escrever um projeto, vamos organizar isso num formato, em algum momento a Raquel e eu nos reunimos como mães voluntárias do grupo de captação de recursos e cada uma com suas habilidades um pouco mais no esquema já de uma escola que não era aquela escola de 2006, que não era escola de 2011/2012 né, já tem uma formalização tanto de escola quanto de experiência de pessoas que chegam e se aproximam.

A gente escreveu um projeto, e assim um dia, olhando e procurando possibilidades de patrocínio, olhou o instituto que parecia apoiar iniciativas ligadas a antroposofia e submetemos o projeto, e o projeto foi aprovado. Então isso deu um novo frescor e acho que dessa nova fase talvez eu possa contar até para a gente diversificar as vozes e os pontos de vista, mas acho que ela pode contar um pouquinho de que foi já um momento inclusive  para apresentar esse projeto para comunidade e para própria escola, é de um jeito diferente, né Raquel? Não acha? Assim no sentido da formalização…

Raquel: É eu acho que é assim, foi um momento que na verdade quando eu cheguei no grupo de captação eu lembro bem assim do convite né, quando eu cheguei no grupo de captação e eu olhei todos os projetos que tinham, e aí eu me encantei muito pelo Arte Mainha aí eu falei nossa eu acho que tem que tudo a ver e eu posso ajudar alguma coisa nisso. Então a gente escreveu projeto lá no grupo de captação, eu e a Elô, e gente pensou assim, como que a gente vai formalizar isso para escola, então tinha uma coisa assim, um  intuito muito grande no sentido de gerar renda para escola mas isso que a Elô falou de fazer com que essas mulheres se apropriassem desse projeto e de fato a gente desse esse esse projeto na mão de todo mundo que fosse engajar e fosse pegar esse projeto para trabalhar juntos, teve uma… não sei se teve uma formalização diferente do que a Elô tá pensando, porque isso não transitei nesse passado com esse presente, mas o que eu sinto é que foi um momento importante para o Jardim do Cajueiro também, porque foi um momento onde a gente conseguiu fazer, a gente estava num momento assim, a escola tinha passado por uma crise em 2016, e aí quando eu cheguei em 2017 a gente começou nesse grupo de captação tentar gerar vários projetos de sustentabilidade para escola e o Arte Mainha era esse projeto que ligava esse passado da escola com esse presente da escola que era, como que a gente reativa a escola e reativa esse projeto, então o projeto ele veio também com essa ideia de todos os projetos que a gente gostaria agora de fazer com Jardim do Cajueiro para as famílias também se beneficiarem e as famílias vulneráveis socialmente, economicamente e culturalmente, como que a gente faria para também elas se beneficiarem de uma renda e poder atrelar essas duas coisas juntas, e a gente começou a fazer diversos projetos de sustentabilidade e o Arte Mainha foi um desses projetos.

Então a gente fez diversos bazares, a gente comprava coisas para revender na escola por exemplo livros de antroposofia que estavam ligados antroposofia, a gente fazia eventos, a gente começou a fazer diversas coisas que pudessem gerar renda e o Arte Mainha veio nisso, vamos também então fazer o Arte Mainha para ele favorecer essas mulheres que a gente percebe que continuam trabalhando muito sazonalmente, porque elas trabalham muito no verão e elas continuam tendo uma dificuldade financeira no nesse outro período que que todo mundo vai embora. Então a gente começou a perceber que essas mulheres precisavam de trabalho e a gente sempre teve esse olhar muito voltado para essas mulheres e como que a gente empodera essas mulheres, como que a gente é assim – a gente empodera, ninguém empodera ninguém, mas o sentido de como que a gente fortalece essas mulheres. E aí teve então esse projeto que a gente enviou aprovou e falamos como que a gente então agora reúne as mulheres que eram do projeto lá atrás com algumas novas mulheres e aí foi super gostoso porque a gente chamou a professora Fabi que foi quem hoje é do sétimo ano no ensino fundamental 2, e a Fabi foi quem fundou a escola, então a gente convidou a Fabi para convidar essas mulheres, então teve um convite da Fabi, teve um convite da Elô também de mulheres que ela também conhecia, e aí a gente fez uma divulgação é dentro da comunidade escolar e foi chamando mulheres que a gente já conhecia que poderiam se interessar pelo projeto.

E foi aí que a gente começou então com essas mulheres, a gente começou a fazer essas reuniões para entender o que essas mulheres queriam, que produtos que elas queriam desenvolver, então a gente tinha mainhas que já tinham aprendido lá em 2006 e 2011 alguns artesanatos, alguns produtos, e a gente trouxe essas mulheres para então serem as oficineiras, e isso foi super legal porque eram mulheres de fato vulneráveis economicamente, socialmente e a gente conseguiu então fazer com que elas se sentissem abertas e com essa possibilidade de falar nossa eu posso fazer isso, eu posso.

Ro: Ter autonomia.

Raquel: Exatamente eu posso dar aula, vamos dizer assim, eu posso ser oficineira desse trabalho, então foi muito legal. Depois teve uma mudança que foi a gente começou a pesquisar diversos tipos de produtos que estavam surgindo como o artesanato, e a gente viu que muitas mulheres tinham interesse no bordado, então a gente saiu um pouquinho –  não totalmente porque várias mulheres continuaram a fazer os produtos que eram realizados nos projetos anteriores, mas elas começaram a se interessar por uma nova arte,  que foi a arte do bordado. Então a gente trouxe a Pri Valentim que também estava lá em 2006 servindo a merenda para as crianças na casa emprestada, ela ajudava em algumas coisas da merenda… tinha a tia Néia que era merendeira mesmo né, mas tinha a Pri que ajudava em algumas coisas da escola em 2006 ela levava algumas coisas de merenda para tia Néia preparar e tudo mais. E a Pri Valentim, ela borda, e a gente convidou a Print então que já conhecia o projeto, que já conhecia a escola e que tinha todo o movimento com esse projeto e ela começou então dar as oficinas de bordado. E essas mulheres então foram capacitadas em bordado que era uma nova técnica que elas não tinham aprendido nenhum dos momentos dos projetos dos anos anteriores e elas então agora estavam aprendendo também um novo ofício, do bordado. Então isso foi muito legal e motivou muito as mulheres, porque além de tudo, além delas estarem naquele convívio que era uma coisa que a gente percebeu que é assim, agora na pandemia a gente percebeu o quanto foi desmotivador não ter os encontros presenciais, sabe? A gente falava, gente vamos produzir? Tentando engajar com que horas continuassem a produzir e tudo mais e aí assim poxa mas não tem os encontros, e a gente percebe o quanto esses encontros são motivadores que esse cafezinho que é esse encontro com o bolinho que você trocar várias ideias de como tá a sua vida de como foi, de como é, de como é ser… foi muito gostoso então esses encontros do bordado da capacitação em bordado e desse encontro presencial que elas faziam e ela se animavam muito para ir a esses encontros.

Ro:  Só fiquei curiosa com uma coisa, você falou do bordado agora e o que faziam antes? Que tipo de artesanato?

Raquel: Elas faziam bonecas, bonecas tipo Waldorf… é como mobile.

Elô: De costura no sentido de mobile, pespontado, sabe?

Raquel: Móbiles de flores…

Elô: Pesos de porta, chaveiro…

Jana: Explica pra gente o que é essa Pedagogia Waldorf ou produtos Waldorf.

Elô: É uma pedagogia que foi desenvolvida por um suíço chamado Rudolf Steiner e a pedagogia Waldorf tem 100 anos. Essa pedagogia está ligada a antroposofia que é uma disciplina que tem vários braços, agricultura biodinâmica, euritmia, várias práticas… E é uma pedagogia que tem um entendimento do ser humano um pouco diferente da pedagogia tradicional, é uma coisa um tanto menos conteudista e com uma ideia de que cada uma das idades e especificamente cada um dos setênios então dos 0 aos 7, dos 7 aos 14 e 14 aos 21, cada uma dessas fases da vida a gente aprende, o ser humano aprende de modos diferentes.

Então acho que essa é uma primeira marca em entendimento do ser humano que está ligado a um currículo muito específico, então alunos do primeiro ano estudam isso e não é só o alfabeto, estudam contos de fada, no segundo ano fábulas, e isso está ligado ao desenvolvimento anímico de cada a criança. É de uma forma muito simplista mas para chegar no Arte Mainha sem muitas voltas também a pedagogia Waldorf valoriza muito o desenvolvimento do ser humano e apresenta o conhecimento como eles se deu na sociedade. Então vamos pensar do homem das cavernas até hoje em dia, ou até a Revolução Industrial.

Então tem um fazer com as mãos do qual a humanidade se constituiu com o passar dos anos, muitos mil anos, que é muito valorizado. Então tem o trabalho manual é uma disciplina de todos os anos. Do ensino fundamental, ensino médio, no primeiro ano aprendem a fazer tricô, no segundo a fazer crochê, no terceiro ano ele vai fazer um boneco… Então tem essa marca muito grande uma valorização do feito à mão, do artístico de uma alma que é colocar, de uma reverência quer colocada em cada coisa.

Então nesse sentido quando se convida essas mulheres para se reunirem e para produzirem com as mãos tem também uma aposta que esse é um viés pedagógico interessante para o desenvolvimento humano.

Jana: Legal, bacana. Já ajudou bastante a escurecer. Agora voltando para o Arte Mainha, eu preciso fazer outra pergunta para vocês.

Primeiro, como esse projeto tem mudado a vida dessas mulheres que estão envolvidas, segundo, como que vocês estão lidando com esse período de pandemia, como que o covid-19 tem atingido Barra Grande?

Elô: Eu acho que tem uma medida do impacto de transformação na vida das mulheres que a gente pode saber um pouquinho né, nas minhas intervenções por exemplo com elas uma das propostas que a gente fez foi uma pesquisa que cada uma respondia, era para responder de forma anônima e elas falavam, não eu quero pôr o nome. E elas viam, elas  identificavam assim, que o trabalho contribuiu muito para elas se desenvolverem pessoalmente, que elas aprenderam novas coisas, melhoraram o humor, conheceram pessoas que não conheciam ou se aproximaram de pessoas que não conheciam. Eu acho que tem um impacto que passa pela autoconfiança, pela valorização, pelo reconhecimento de pares a quem recorrer e talvez seja o mais valioso neste momento do projeto.

Acho que nesse momento do projeto a gente não conta com ninguém como foi lá em 2006 que de fato põe a comida na mesa com aquele valor, não que elas não pudessem fazer isso hoje em dia se elas quisessem, mas a parte econômica faz uma diferença mas eu não acho que ela é mais sustentador nesse momento para o projeto, eu entendo que essas mulheres se engajam afetivamente e socialmente como para ter um lugar de pertença.

Com a covid-19 de cara os encontros semanais ficarão suspensos, então isso já é uma… quando a Raquel fala que tava motivando as mulheres a produzirem ela tava falando de um contato basicamente um grupo de WhatsApp – eu não participo do grupo mas a Raquel talvez possa dar notícia dessa movimentação assim – mas acaba sendo um lugar também de trocas afetivas ali.

O impacto das vendas e da produção certamente foi sentido, mas ao mesmo tempo é um tipo de negócio que talvez possa encontrar um caminho apesar da pandemia, daí tem um desafio que é o desafio do Arte Mainha, não é que por trás dele tem alguém empresarialmente dedicado a isso, o que acontece é justamente o desafio é como essas mulheres se organizam para produzir? Então tem um passo que às vezes fica mais lento, mas por que se acredita que é só assim que vai poder acontecer alguma transformação, se precisar ser mais devagar vai ser mais devagar, mas acho que tem uma perspectiva e uma possibilidade aí de contornar a pandemia. Com um impacto negativo na produção e nas vendas.

Agora a Raquel tem mais números para falar disso.

Raquel: Teve uma coisa que foi interessante porque assim, logo no começo da pandemia que a península fechou, então não podia entrar turista, teve toda uma coisa bem grande no início, claro que depois as coisas foram mudando um pouquinho mas teve um grande tempo que as pousadas não funcionavam, então foi de março até setembro isso, foi bastante tempo. E durante todo esse tempo o grupo praticamente estancou. Então a gente tinha algumas trocas ali no grupo e tudo mais, algumas falas, então sempre alguém enviava alguns links para conhecer outras bordadeiras, tem uma mãe também que é super… ela pega diversos tipos de imagens que estão na internet gratuitamente, que pode bordar em cima, e ela também enviava no grupo e tudo mais, mas tem isso né, tem a motivação do encontro, tem tudo isso… mas quando a península foi abrir uma mãe que é da escola e é uma mãe super engajada e tudo mais, que é a Sol, ela tem uma lojinha na vila, e aí a gente conversou e eu falei assim…Sol, não dá para a gente colocar lá? Porque a gente não tá conseguindo vender em nenhum lugar. Porque primeiro que a gente ainda não estava com o projeto todo concluído, que seria a parte da comunicação onde a gente teria um  engajamento via redes sociais, que é uma forma sim de a gente conseguir fazer as vendas, e que isso ainda não está concluído. Na verdade a gente não tinha dado nenhum passo para isso né, e aí entraram depois vocês com todo esse conhecimento, toda expertise de vocês, maravilhoso e deixou ali pronto para a gente conseguir ganhar fãs e pessoas que possam ser nosso público para compra, mas então antes disso –  que a gente ainda não tinha essa comunicação pronta – a gente conversou muito entre eu e a Sol, e a Sol falou,  claro vamos colocar aqui na minha loja e vamos ver o que vai acontecer.

E aí o que aconteceu quando a Sol colocou na loja… começou a vender um monte de produtos porque os turistas começaram a voltar, começou a voltar ao turismo e e a Sol tava abrindo praticamente todas as noites ali, então todo mundo com os protocolos de segurança e tudo mais, mas os produtos estavam ali expostos e foi uma forma então que a gente conseguiu apesar de não ter os encontros presenciais e a maior forma de motivação seus encontros presenciais a gente percebeu que elas voltaram também como a motivação por conta da parte econômica.

Elô: que é uma motivação!

Raquel: Exatamente.

Elô: E é um objetivo inclusive.

Raquel: Exatamente. E é isso que acontece, como ela sabe que no verão também é um momento onde tem mais turistas e mais vendas consequentemente, então elas voltaram a produzir e a gente começou então a levar esses produtos para a Sol e eu comecei a dar o retorno, gente tá vendendo, todo dia tem pelo menos uma venda. E elas começaram a animar, então começaram a produzir mais e mais. Tinham alguns produtos que elas já tinham produzido e que a gente não tinha vendido, então tinha um estoque até bem bacana, mas tava acabando. Tinha alguns bastidores bordados que estavam acabando, tinha alguns móbiles de passarinhos que estavam acabando, chaveiros tinha zerado… já não tinha mais. Então elas recomeçaram essa produção e continuaram super animadas. Até hoje por exemplo, o verão até assim… ainda tem bastante turista e tal mas até hoje tem bastante venda e elas continuam motivadas para isso, mas teve algumas mulheres que já me procuraram para falar, mas a gente vai poder se encontrar? Quando que a gente vai poder se encontrar? E aí até pensei um pouquinho em como que a gente poderia fazer esses encontros. Então se a gente conseguisse fazer em um lugar aberto, quando a gente foi gravar o vídeo, quando a gente foi fazer algumas coisas que a gente queria para comunicação a gente levou uma mesa lá para fora, a gente colocou as coisas lá fora… os tecidos, os bastidores, as meadas para bordado e tudo mais, e a gente percebeu por exemplo que de máscara, com um distanciamento e num lugar aberto talvez fosse possível a gente dividir de repente em dois grupos.

Ro: Quantas pessoas são?

Raquel: Atualmente são 14 mulheres envolvidas assim envolvidas no geral e estão bordando acho que estamos em 10 mulheres. E então assim elas estão motivadas para isso e eu acho que a gente vai talvez começar… agora os casos subiram bastante aqui por conta do turismo, então também aumentaram muitos casos de covid aqui no município,  então a gente tá esperando baixar um pouco essa onda para de repente propor novamente esses encontros nessa configuração.

Acho que tem esse impacto que a gente percebe, o impacto também quando voltam essas vendas e elas se animam, então não era só mesmo a motivação dos encontros, tem mesmo um fortalecimento quando elas têm essa geração de renda.

Ro: Mas além dessa geração de renda que é super importante, tem esses encontros e eu queria saber como é exatamente, eu sei que vocês têm temas que vocês debatem, elas trazem temas? Como que é?

Elô: Na verdade acho que foi a primeira vez que a gente organizou alguma coisa que em outros momentos o grupo fez. Então dessa vez vamos trabalhar a divisão de tarefas, essa coisa do cafezinho é muito curiosa porque cada uma levava alguma coisa para compartilhar e para fazer um cafezinho lá, era uma coisa que ninguém combinou mas que acontecia,  pelo menos umas duas pessoas levavam coisas. Mas ao mesmo tempo ninguém combinava nada, então tem uma temática de chamar isso para conversa e aí dá a chance justamente de cada um se colocar, e aí que eu acho que tá o pulo do gato da questão dos grupos, desfazer politicamente diferente nesse sentido. Não é que tem que levar, a gente quer trazer um lanche, e esse lanche para funcionar às vezes eu posso trazer, às vezes a outra traz, eu vou trazer suco… vamos juntar dinheiro para fazer o café.

Tem um trabalho, então os temas que a gente debate não é que exatamente vão… a gente trabalhou em alguns momentos essas questões da formação de grupo, uma outra coisa por exemplo foi a escolha da logo. Então não era uma questão de cinco acham essa, quatro acham essa… tem que ter a cara do grupo. Então o processo de escolha, esse tipo de facilitação – plaquinha verde, plaquinha vermelha, plaquinha amarela – um trabalho de opiniões e de juntar, e de processo de escolha que eu acho que foi um diferencial nesta versão que a gente tem. Eu acho que um pouco nesse sentido desta vez o projeto está mais estruturado.

No sentido oficineiras, um olhar para pessoas que possam fazer intervenções no grupo para o grupo seguir sozinho. Agora essas conversas meninas, não precisa de temática… é isso, as mulheres se juntam e tem uma mais engraçada, tem uma mais tímida, algumas são amigas entre si, outras são novatas… e dessa vez enquanto em algum momento a preocupação é vamos gerar renda para as mulheres de modo que elas possam trabalhar sem abrir mão das suas casas, porque não é que elas poderiam – ah eu vou tomar um chá com as amigas e bordar, não… as crianças estão ali, tá vendo novela está bordando, tem essa proposta que está ligada a isso também. E aí eu acho que congrega essa reunião de mulheres em um tempo em que as pessoas viviam mais juntas né, muito diferente dessa vida mais moderna. Cada um na sua casa, cada um na sua tela. Tem um Resgate que é cultural e assim de uma certa memória ancestral humana;;;

Ro: De comunidade mesmo, né?

Elô Pois é, e nisso os assuntos muito ligados a conselhos de umas às outras, de desafio com filhos, relacionamento, casamento, então muito apoio de uma para outra.

Eu acho que esses temas era bem de ver que isso fluía entre elas né,

Jana: Elô, e você como psicóloga e facilitadora de processos de gestão dentro do grupo, qual é o seu papel? Como que a sua função contribui para o Arte Mainha?

Elô: Foi uma contribuição assim bem pontual Janaína nesse momento assim, um pouco entre o funcionamento dos encontros – que legal eu vejo que vocês vem aqui, vim participar com vocês, me apresentei e perguntei se eu podia… falei que ia ver como eu podia ajudar o grupo e aí fazendo algumas provocações para que alguns acordos coletivos que ficam um pouco subliminares fossem de fato feitos em grupo. Então acho que essa é uma intervenção, e a outra no processo de escolha mesmo, no processo de escolha de logo, de como vai abrir, quem que vai abrir a barraca, como ficam esses combinados.

Então foi só uma pitadinha mesmo, em algum momento lá em 2019 foram 11 encontros que eu fiz com elas e parei de participar das sextas-feiras. E meninas, por um tempo eu fiquei naquela falta daquele encontro da sexta-feira, porque tem uma troca muito… eu não fui lá levar nada para elas de nenhum saber, foi um pouco aprender com elas como a gente faz para ficar juntas e fazer funcionar. Então acho que é uma intervenção nesse sentido.

Ro: Raquel, vocês falam sempre da divisão justa, como é a divisão da renda dos artesanatos?

Raquel: Ah, então…isso também foi uma decisão que a gente fez em grupo, então foi uma coisa bem legal. Um pouco do que já era feito antes, mas a gente trouxe para discutir no grupo e entrar num consenso com essas plaquinhas verde, amarela e vermelha que a Elô tá falando, entrar num consenso de como que a gente poderia então fazer a divisão dos valores.

Quando uma mulher vende um artesanato que ela fez, essa divisão é 50% do valor desse produto vai para artesã que fez esse trabalho, então todos os produtos tem uma etiqueta onde ela coloca o nome dela, o produto que ela fez e o valor daquele produto.

Elô: e horas de trabalho

Raquel: E horas de trabalho, exatamente. Então quanto tempo que ela teve para fazer esse trabalho. Aí quando ocorre essa venda a gente corta essa etiqueta e essa etiqueta fica na mão. Assim que eu coordenava também essa parte do financeiro, como que agente faz para dividir – então desse valor total do produto 50% é da geração de renda para artesã e os outros 50% são divididos em 2 – metade para reinvestimento no projeto ou seja para comprar novos produtos, novas matérias-primas para desenvolver os produtos, então tecidos, meadas, agulhas etc, e a outra metade desse 50% vai como doação para o fundo de bolsas da Escola Comunitária Jardim do Cajueiro, é assim que é a divisão do valor de cada produto.

Ro: Eu só queria dizer que eu acho lindo esse resgate de comunidade porque as pessoas hoje se afastam cada vez mais e acho que junto a gente consegue sempre alcançar muito mais coisas.

Elô: Talvez uma coisa muito piegas que eu vou falar assim que com a Raquel falando das horas de trabalho, eu tive já a experiência de dar esses produtos de presente e eu vejo que

quando a pessoa olha e fala nossa 12 horas de trabalho e de certa forma pensa que uma mãe da escola, uma amiga da escola se dedicou àquilo eu acho que tem uma coisa que toca numa certa emoção assim, saber do amor que é colocado em cada atividade, um resgate assim da doação mesmo, da dedicação e do quanto as coisas se compartilham e como a gente leva de um para o outro né, e vai embelezando e vai alegrando eu acho que tem aspectos positivos muito bonitos e amplos que a gente nem consegue muito ver eu acho que tem uma coisa que a gente tem assim muita vontade, as mulheres falavam como a gente faz para chamar mais mulheres para cá? A gente queria que a fulana viesse, a gente queria que a fulana viesse… e isso também é um desafio, acho que é uma pergunta que a gente tem como grupo: como a gente faz para chamar mais mulheres para cá sabe? Raquel: Esse foi um desafio também né, Elô? De como chamar, a gente percebeu que era mais fácil quando uma mulher chamava diretamente uma outra mulher né e não adiantava de repente fazer tipo um bilhete geral para as mães da escola “venham no grupo, tá rolando isso, tá rolando um encontro”  a gente percebia que esse olho no olho de falar o sobre o projeto, explicar sobre o projeto é e dizer que não só ela faria uma coisa por ela e também faria uma coisa para o projeto social que é a Escola Comunitária Jardim do Cajueiro, isso brilha os olhos das pessoas.

Então a gente percebeu que era um desafio fazer um grande chamamento, mas que era incrível quando a gente fazia esse olho-no-olho. E isso que realmente funcionou.

Eu acho que as pessoas que estão lá foram as que ou chamamos pelo telefone porque a gente não encontrava ou foi que a gente fez um olho-no-olho e convidou as pessoas, sabe?

Ro: Que é a própria comunidade mesmo, é a busca dentro da própria comunidade se expandindo.

Jana: Eu falo por mim e pela Roberta nesse momento que até me emociona de podia fazer parte um pouco disso tudo e de ter o dedinho da Ô Dona nisso tudo, então sou muito grata pela confiança de verdade.

Raquel: Nós somos muito muito gratas por vocês terem abraçado projeto Arte Mainha,  porque realmente fez muita diferença, eu acho que quando a gente olha como essa comunicação foi feita com tanto amor por vocês, porque dá para perceber, não é um marketing e só isso, tem uma emoção ali, em cada um dos posts vocês percebe como que escreve, como que ele tá elaborado… a gente percebe que isso tocou vocês e que somos aliados nesse projeto e quanto mais aliados a gente ganha pro projeto, mais forte ele fica. E vocês fazem parte agora da nossa rede de apoio, muito obrigada.

Ro: Que lindo gente, e quem quiser ajudar, para quem tiver ouvindo aí quiser colaborar de alguma forma como que faz?

Raquel: Então, aí pode entrar no site do Arte Mainha – elaborado maravilhosamente bem pela Ô Dona – www.artemainha.com.br e a gente tá no Instagram e no Facebook @artemainha.barragrande e nossos telefones estão ali também.

E vocês vão chegar na Escola Comunitária Jardim do Cajueiro, sigam também que tem muita coisa legal da escola.

Ro: Então sigam o Arte Mainha, Jardim do Cajueiro e sigam a Ô Dona também. Obrigada, gente. De verdade, adorei.

Elô: Obrigada, foi um prazer estar aqui com vocês no DonaCast, e falar do Arte Mainha, falar de mulheres que se juntam, que trabalham, que valorizam e isso para mim é um privilégio. Obrigada.

Ro: Que seja um ótimo exemplo para outros projetos.

Jana: Obrigada gente!

Raquel: Obrigada!

 

Locutora: Este podcast foi produzido pela agência Ô Dona – uma rede liderada por mulheres, focada em diversidade e inclusão. Mais informações e transcrição do episódio no nosso site www.odona.com.br – Diversidade de verdade só acontece por meio da inclusão.



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Dona Jana é executiva de software com mais de 10 anos de experiência em empresas de tecnologia de estágio inicial a intermediário, incluindo gerenciamento geral, liderança em go-to-market e operações internacionais. Atualmente trabalha como presidente da empresa Odona, uma empresa focada em trazer diversidade para o mercado de trabalho brasileiro. Tem paixão por promover uma cultura inspiradora impulsionada por uma mentalidade de pessoas em primeiro lugar, com o objetivo final de fornecer uma experiência de classe mundial para funcionários e clientes. Estou dedicada a investir no crescimento de outras pessoas, operando com integridade e aproveitando a jornada!

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