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#008 Protagonismo feminino nas obras de ficção

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Protagonismo feminino nas obras de ficção

DonaCast #008 – 01 de outubro, 2020

As donas Fabi Ferreira, Janaina Guiotti e Roberta Fabruzzi discutem a importância de personagens femininas protagonizando obras de ficção e a importância dos reflexos disso na infância.

Transcrição:

Ro:  Olá! Começando mais um DonaCast. Eu sou a Roberta Fabruzzi.

Jana: E eu a Janaina Guiotti.

Ro: E hoje a gente tá aqui com a Dona Fabi Ferreira, e a gente vai bater um papo sobre o protagonismo das mulheres nas obras de ficção. Tudo bom Fabi?

Fabi: E aí gente beleza?

 

Ro: Fabi você pode se apresentar para as pessoas, já que você também faz parte da Ô Dona, você é de casa já.

Fabi: Vamos lá! Eu sou de casa né, conheço a Janaína já há muitos anos e você também há muitos anos, estudamos juntas cinema e estamos aí nessa área juntas, batalhando… fazendo vídeo, editando bastante coisa, gravando… e eu também em paralelo faço 3D, que na verdade é o meu foco principal, que é maquetes eletrônicas e no geral né, personagem eu tento estudar para entrar mais nesse mercado, mais um mercado cheio de homens que eu tô tentando entrar mais uma mulher aí, e tentar trazer outras mulheres juntas também.

Ro: Eu ia até perguntar do mercado porque 3D é um mercado bem masculino também. Jana: E Fabi, como a gente já conversou bastante tempo sobre todo o seu trabalho, a gente sabe que você já é líder na empresa em que você trabalha, você quer falar um pouquinho sobre isso, como é que é ser líder dentro de 3D.

Fabi: No 3D eu já tô trabalhando há um pouco mais de 10 anos e é uma coisa bem louca porque no 3D eu não tinha tanto interesse, meu foco sempre foi cinema, sempre foi vídeo e acabou mudando um pouco e eu abracei os dois. Eu trabalhava numa empresa que teve uma crise – do ramo imobiliário mundial –  acabei saindo e comecei a trabalhar mais com vídeos e também percebi que eu não conseguia desgrudar do 3D, tanto que eu voltei para uma outra empresa, em que eu estou há pouco mais de 4 anos, entrei como funcionaria normal e hoje eu sou uma das líderes da produção.

Eu lido com mais de 20 pessoas diariamente, conversando, ajudando e auxiliando. Liderando eles para produzir o nosso dia a dia e bater nossas metas. E é bem legal porque é uma área predominantemente masculina mesmo, tanto vídeo quanto 3D são áreas com mais homens, então às vezes a gente acaba entrando numa empresa e a única mulher na empresa. A programação também, a área de TI também é assim. Você acaba sendo a única mulher, fica um pouco isolada vai se adaptando, e hoje eu fico feliz em dizer que há outras mulheres trabalham comigo e eu tento fazer o máximo possível que tenha mais mulheres e que elas sintam confortáveis dentro da empresa, sempre de olho no que tá acontecendo no ambiente de trabalho, mesmo que hoje seria virtual.

Jana: Que orgulho. Eu estou muito feliz de falar com a Fabi hoje a gente, A Fabi é a minha  melhor amiga, a gente se conhece há muito, muito tempo. Acho que tem quase 20 anos. Fabi: Ai, não fala que vai começar a revelar as idades aqui.

Ro: E é legal que a gente tá falando isso das mulheres porque o assunto de hoje é justamente mulheres sendo protagonistas e em obras de ficção, principalmente no cinema, mas a gente pode abordar outras obras.

E eu já queria saber, pra começar a falar sobre o assunto, qual foi o último filme ou série que vocês assistiram que tinha uma protagonista feminina? Vocês lembram?

Jana: É, agora vou falar algo surpreendente para a Fabi. Eu assisti Star Wars.

Fabi: Ah, sério? E ai? Qual Star Wars?

Jana: Eu assisti no final de semana. Eu vi na ordem cronológica, eu nunca tinha assistido dessa forma, acho que eu tinha um pouco de birra com Star Wars antes porque eu tinha assistido aos primeiros filmes e eles tinham uma qualidade muito ruim, e ai acabou que eu nunca me encante. E acabou que eu tenho um pouco de birra quando as pessoas falam muito sobre um assunto.

Ro: Ah, ai cria um hype enorme e dá preguiça né.

Jana: Exatamente. Então eu sempre fechei os olhos para Star Wars, mas foi surpreendente, eu assisti a cronologia toda e eu gostei de verdade, não é um filme que eu vou pegar para assistir muitas vezes, como a maioria dos fãs, mas foi um filme que eu achei legal. E eu gostei muito do papel da Rey no final. Então acho que esse foi o último filme que eu vi com uma protagonista feminina.

Fabi: Já que você falou de Star Wars e pra gente não ter unfollow, porque você falou que Star Wars tinha qualidade ruim, é que eles são muito antigos, então para a época eles eram muito bons, eles são datados né, hoje em dia a gente pode até achar monótono né. Mas Star Wars eu não sou assim uma grande fã, eu comecei a assistir mais Star Wars com essa geração nova também, por causa da Rey, que eu acho que é importante ressaltar. E eu gosto desses filmes, e do Rogue One, que tem uma protagonista também, eu não lembro o nome… a Jyn.

 

Ro: O Finn que ficou totalmente deixado de lado no último filme, o ator mesmo, o John Boyega até reclamou disso.

Fabi: Sim, ele reclamou e a Rose também foi deixada de lado.

Jana: Não teve uma continuidade no romance deles também, eu achei que era uma coisa que iria engatar e no final ficou aquela coisa “ah, eu vou contar um segredo para a Rey” aí no final não contou nada, ninguém sabe como foi o resultado daquilo.

Fabi: Ah, aconteceram várias coisas, ia engatar um romance com a Rose, ou com o outro cara também que ficaram shippando e não deu em nada. Esse último filme foi um divisor de águas que muita gente não gostou, principalmente os fãs mais fervorosos.

Ro: É, eu não gostei.

Fabi: Eu acabei gostando, mas é aquilo que eu tava falando, eu não era uma fã fervorosa dos filmes. Eu gosto dessa geração, então para mim eu comprei e assisti. Assisti uma vez só, assistiria outras vezes mas de qualquer forma acho que Star Wars é um exemplo legal  de personagem feminina agora para mim.

Jana: Mas mesmo antigamente com a Leia eu acho que é uma personagem tanto, para ressaltar.

Fabi: Ela é boa mas tem aquela coisa de antes de sexualizar ela.

Ro: Mas o que eu achei muito legal, já que vocês falaram de Star Wars, que quando acho que saiu o primeiro… dessa última trilogia, eu tava na rua acho que era um pouco depois de ter estreado o filme, eu vi uma menina vestida de Rey com sabre de luz e eu achei aquilo tão sensacional, porque não é uma coisa que a gente via assim, as meninas se identificando com super-heróis, brincando com sabre de luz com o cabelo preso igualzinho,  achei muito legal, mexeu muito comigo.

Fabi: Muito representativo, né? E é isso que às vezes os homens não entendem. Porque às vezes o hate que era tão forte do Star Wars quando começou a ser geração nova, de ser uma protagonista feminina e foi um hate inimaginável, sabe? E é só porque é uma mulher, não tem outros motivos.

 

Jana: Até falando sobre hate, os caras falando que mulheres não poderiam ser jedi, e tudo mais… mas nos dois primeiros filmes já dá a entender que a Leia tem a força. Então sim, mulheres podem ser jedi. Não sei se é o machismo escancarado, mas se é fã de verdade sabe.

Fabi: É fã babaca que quer que aquele universo que eles imaginam sejam só como eles… é que é muito difícil para eles serem representados a vida inteira e mudar um pouco, entendeu? Eles estão saindo da área confortável deles. Isso aconteceu com a Lenda de Korra também. Teve muito hate só por ser uma personagem feminina, não sei se a Roberta conhece, porque desenho, é um desenho bem popular que é a Lenda de Aang, teve até um filme horrível que fizeram, muito ruim. Vai ter também um live-action pela Netflix, mas enfim,   esse desenho é bem legal vale a pena assistir porque ele é para qualquer idade, apesar de que a Lenda de Aang é mais infantilizado, mas aborda uns temas bem legais de budismo… Mas com um mundo diferente do nosso. Enfim, isso aí causou uma comoção, uma geração de crianças aí elas cresceram e aí teve a continuação do desenho, só que é a Lenda de Korra, que é o que? O Avatar morre e renasce em outra pessoa. Com outros elementos… o Avatar ele domina os quatro elementos: ar, fogo, terra e água e ele vai renascendo, quando ele morre, renasce em outra pessoa e ele é o guia espiritual do mundo, ele é uma ponte entre os dois mundos: o mundo espiritual e o mundo das pessoas, o mundo físico. E aí beleza ele morreu, não mostra isso no desenho, mas então vamos fazer a continuação, né? Só que ele morreu e agora é uma mulher, uma menina que é o Avatar. E isso teve um hate espantoso. Os autores ficaram chocados assim, tem até entrevista hoje em dia deles contando que o que mais surpreendeu eles era o ódio só por ser uma mulher. Ninguém conhecia o desenho e já tinha haters.

Ro: Só por mudar…

 

Fabi: Igual The Last of Us, tem um jogo que só porque teve cena de beijo gay, e é uma personagem feminina…antes de sair o jogo o pessoal já estava dando nota negativa. Antes de sair o jogo!

Jana: É um absurdo né, especialmente em Avatar porque existiu um Avatar mulher antes do Aang.

Fabi: Existiram trocentos avatares.

Jana: Mas que mostra na Lenda do Aang.

Fabi: Na lenda do Aang mostrou duas avatares.

Jana: Verdade. Eu não lembro muito, faz muito tempo que eu vi, mas é um desenho que eu recomendo principalmente para quem gosta de arte marcial, é bem feitinho mesmo, é bem legal.

Ro: Tem dois filmes que eu vi e agora eu não lembro qual eu vi por último, que foi o 9 to 5, que é o Como Eliminar seu Chefe, com a Dolly Parton, a Jane Fonda e a Lily Tomlin. Eu super recomendo, eu até acho que vou escrever na curadoria da Ô Dona sobre ele…

Jana: Jane Fonda!

Ro: Elas estão produzindo um remake desse filme, porque é tão atual! Elas são 3 secretárias e um chefe super machista, misógino, babaca, preconceituoso. E aí a trama se dá nesse ambiente de escritório e você vê tanta coisa que até piorou hoje, dos anos 1980 pra cá. É muito atual o filme, parece que é antigo mas não é.

E o outro que eu assisti porque estava passando na TV, eu já tinha assistido mas eu revi, foi aquele Julie & Julia.

Jana: Eu não conheço também.

Ro: Ela é escritora, jornalista – é uma história real – e ela começa a fazer um blog inspirado na Julia Child, que é a cozinheira. Ela pega um livro de receitas da Julia Child e começa a fazer cada dia uma receita, ela tem um ano pra fazer todas as receitas.

E aí o filme é vai contando em paralelo a história da Julie  que vai fazendo o blog e vai contando a história real da Júlia e como que ela virou cozinheira. Aí tem, ela tava em Paris acompanhando o marido dela que era diplomata, e ela foi estudar na Cordon Bleu. Só que naquela época, acho que era anos 50, se eu não me engano, tinha um curso para mulher, que era tipo para a mulher de cozinhar para o marido, e tinha um curso profissional e ela queria fazer o curso profissional e só tinha homem lá. E ela teve que brigar até para fazer o teste e conseguir o certificado para poder dar aula de culinária como uma chefe mesmo. 

Jana: Caramba!

Ro: É bem legal. E é a Meryl Streep quem faz ela.

Jana: Eu amo a Meryl Streep, é impossível não amar a Meryl Streep.

Ro:  Assista a esse filme, então. Ele é bem legal.

Fabi: Como a gente ia conversar sobre isso eu procurei um filme que eu nunca tinha visto e que sentia vergonha de não ter visto ele, e aí eu fui assistir ontem. E eu tive que dublado que eu não achei com legenda mas é o Thelma & Louise. Eu nunca tinha assistido.

Jana: Como? É muito bom!

Fabi: É muito bom mesmo, nossa, a Geena Davis é sensacional, e ele é um filme antigo, é de 90 eu acho, mas ele é muito atual em algumas coisas. Eu não gostei muito do final, apesar de ser um final bem para a gente refletir.

Ro: Icônico, né!

Fabi: É, “nããão!” né, corre, foge… mas não para o precipício. Mas é bem interessante o filma, é muito atual ele fala sobre estupro que é algo muitp pesado e muito recorrente na vida de todas as mulheres assim para conversar, né! E sempre bate naquela tecla de ah, não vão acreditar. A Geena Davis que é a Thema estava dançando no bar a tarde inteira, ai o cara tentou estuprar ela e falou meu “ninguém vai acreditar, todo mundo viu você dançando com ele”. E aí é só loucura, essa rede de fuga tudo errado e sempre fica aquilo, nunca vão acreditar e a única solução encontrada é essa. De que é melhor ser livre se jogando para nada, que é improvável sobrevivência do que ser pega por eles. E até hoje em dia tem isso, a pessoa tem prova de estúpro e não é presa, imagina antes.

Mas é bem interessante ver a evolução da Thelma no filme, porque ela é toda fofinha e  bobinha, e depois ela assalta um mercado, começa a mandar na outra. “Não, vai dar certo, fica quieta”.

É bem interessante assim esse filme.

 

Jana: Um que eu gosto muito é Uma Equipe Muito Especial com a Geena Davis, sobre times femininos de baseball e o filme é antigo também, ele é de 1992, alguma coisa assim. Mas é bem legal porque ele fala sobre a liga feminina de baseball dos EUA. E eu assisti também a um documentário que fala sobre um casal de duas mulheres lésbicas, que elas são duas velhinhas, e uma delas tinha quase 100 anos e era uma das jogadoras de baseball de uma dessas ligas.

Me lembrou muito a coisa do filme e é bem legal. E a história delas é algo bem bacana que é claro que na idade delas elas não eram assumidas e nunca contaram para ninguém, E aí elas decidiram assumir depois dos 80 anos de idade.

Aí a família demorou para aceitar mas depois organizaram um casamento para elas, bem legal.

Fabi: Nesse filme do baseball se eu não me engano eles estão dando foco na liga por causa da guerra. Os homens estão na guerra então agora a atração é a liga feminina de baseball.

E o Tom Hanks é o técnico de time, e ele é um rabugento que não compra a ideia, mas ai ele vai mudando a história. E tem a Madonna nesse filme também, não sei se a Jana falou.

Ro: Que legal, eu não sabia, eu nem conhecia esse filme. Como que chama?

Jana: Uma Equipe muito Especial em português, em inglês eu não lembro.

Fabi: A League of Their Own. Foi a única atuação boa da Madonna inclusive.

risos

Jana: Poxa! Procura-se Susan Desesperadamente. É muito bom também, recomendo. E eu não posso reclamar de Evita.

Fabi: Mas é um musical, né? Então é um pouco mais a cara dela.

Muito bom. E a Geena Davis é sensacional. Eu não sei se vocês sabem mas ela tem uma fundação para apoiar mais mulheres nas mídias. Eu sigo a página do Facebook dela, Instagram, tudo. O lema é que se a menina pode ver, ela pode ser, entendeu? Então tem que ter na mídia as meninas fazendo várias coisas, como tem a Rey, como tem uma mulher médica, sabe? A criança vê e ela pode ser isso, ela pode se realizar, pode se fantasiar. É um espelho. Mostra na estatística quantas horas uma criança na idade de 8 a 18 anos, adolescente, fica vendo televisão e quanta informação vem na cabeça dela. E a maioria são homens representando. São meninos.

Então hoje em dia eu fico muito feliz de ver que tá mudando isso, que tem muito desenho com personagens femininas principais, A Lenda de Korra, She-ra.

 

Jana: She-ra é muito bom, o novo da Carmen Sandiego também.

Fabi: Tem muita coisa boa. Hoje mesmo eu cheguei e tava passando as Caça-Fantasmas que era aquela geração que teve de mulheres que também teve um hate estrondoso e cancelaram a continuação, e hoje em dia é maravilhoso, é muito bom. E também teve o caso de ver fotos de crianças, de meninas vestidas de caça-fantasmas eu acho isso muito legal, você poder se fantasiar e se imaginar como uma outra personagem, uma figura que você se vê. Eu lembro quando era criança eu brincava e gostava de desenho mas eu era os caras, né. Só tinha menino. Então eu fingia que eu era um personagem masculino, sendo que há as figuras que hoje me representam, que dá para ser representada.

Não tem problema você fingir que é um personagem masculino, mas pode ter outras opções também. Se você quiser ser um personagem feminino ou continuar se espelhando em personagens masculinos tanto faz, o importante é ter opções.

Ro: Sim é legal ter essa identificação.

Jana: Eu acho super importante também, eu sempre gostei muito de mulheres fortes, desde pequena. Então minhas personagens de desenhos favoritos eram sempre mulheres, eu sempre fui muito fã da Chun-Li por exemplo, no  Street Fighter. Comecei a fazer Kung Fu por causa disso, então sempre busquei esses espelhos.

Mas realmente se você for parar para pensar em quantas personagens femininas e quantas masculinas, é um absurdo. É muito difícil você achar alguém no videogame ou no desenho para se identificar.

Mesmo quando eu assistia muito os Cavaleiros do Zodíaco, as amazonas elas são totalmente apagadas. O foco é sempre nos carinhas e é bem chato isso, podia ter uma personagem feminina como sendo uma super forte. A gente tem tanta força quanto.

Ro: Isso da infância, de ter essa identificação faz total diferença. Eu lembro que também,  quando era criança gostava muito do a Xena, A Princesa Guerreira, mas meus personagens favoritos geralmente eram…eu gostava de ler o Sherlock Holmes e eu achava que eu nunca ia poder ser aquilo porque eu sou mulher, e isso vai ficando na sua cabeça de certa forma, é muito difícil você crescer e desconstruir isso. E eu ia perguntar para vocês quem que eram os seus personagens favoritos de infância, justamente… se eram homens, ou eram mulheres, se tinha essa identificação.

 

Jana: No meu caso a minha personagem favorita desde criança sempre foi a Chun-Li do Street Fighter, sempre gostei muito de arte marcial desde pequena e tal, o que era um pavor para os meus pais porque para eles eu não podia fazer isso, porque eu era uma mulher. Tanto que a primeira coisa que eu fiz quando eu recebi meu primeiro salário foi me matricular na escola de kung fu e meus pais ficaram muito bravos com com isso, mas como era eu que tava pagando minhas contas agora eles não tinham mais o direito de reclamar, então eu decidi. Mas eu sempre busquei personagens femininas para me espelhar. Era muito raro ter um personagem masculino preferido, muito raro mesmo.

Fabi: Eu não lembro agora de cabeça mas na infância mesmo eu não lembro de muitas personagens femininas para me basear, eu gostar muito de Cavaleiros do Zodíaco, gostava muito do Seiya, Yu Yu Hakusho, eram só caras também.

Ro: Eu lembrei que eu gostava de Sailor Moon também.

Fabi: É, então. Eu nunca gostei, e isso é até uma crítica que algumas pessoas fazem, risos, comigo. Porque eu nunca dei uma chance de verdade para Sailor Moon.

Ro: Eu vou fazer essa crítica também. Ah, era tão legal!

Fabi: Eu sempre fui muito, eu não sei dizer, mais combativa, mais agressiva quando criança. E eu gostava de muitas coisas que eram mais voltadas para os meninos teoricamente. Isso fazendo aspas gigantes.

Ro: Sim, sim, dá para entender o que você quer dizer.

Fabi:  Não existe coisa só para menino ou menina, mas Sailor Moon eu nunca me identifiquei e eu posso estar bem enganada, mas eu não identificava com aquelas coisas de menina de saia, eu não sou uma menina que usa saia, nunca fui uma menina vaidosa, então não me identificava com essas meninas e esse negócio de usar saia meio curta, eu não gostava. Mas eu sei que tem muitas coisas positivas de Sailor Moon que eu não conheço, tem personagens lésbicas, tem…eu não conheço a história para poder falar a fundo, mas eu sei que tem seus valores mas eu nunca me identifiquei. Por isso que quando eu…hoje a gente tá com mais de 30 anos, então eu me emociono muito quando vejo uma personagem feminina hoje porque eu queria ter conhecido essa personagem quando era mais nova. Por isso que eu gosto muito de A Lenda de Korra, porque isso teria sido muito importante para mim quando mais nova. Quando era criança eu também queria fazer kung fu, mas eu fiz mais velha, com mais de 20 anos também, eu fiz kung fu com a Jana né. Na verdade eu fiz kung fu e a Jana não aparecia para treinar.

Ro: Olha só!

Fabi: A Jana que me apresentou ao kung fu e eu sempre tive vontade também. Então imagina isso na minha época de adolescente, ia ser incrível.

Quando estreou Mulher Maravilha no cinema eu chorei. Tipo, a Mulher Maravilha nem me impactava antes, porque ela era retratada de outra forma naquela Liga da Justiça, Super amigos…não era algo que eu achava tão legal, mas depois foi mudando como ela era representada, na Liga da Justiça mais nova ela era uma mulher que eu achava da hora, bem legal…e quando saiu o filme, meu, as amazonas lutando, incrível sabe? Ela na trincheira, na parte da trincheira eu tava chorando… por que???? Por que não teve isso quando eu era mais nova?

Ro: Sabe que eu já fiquei meio emotiva antes de começar o filme, porque quando eu entrei no cinema para assistir a Mulher Maravilha e eu tava olhando o pessoal entrando na sala e entrou um grupo de mulheres com a tiarinha de papel da Mulher Maravilha na cabeça e eu achei aquilo muito emocionante, porque sabe, eu queria muito ter tido isso quando era mais nova, e você já fica emotiva antes de começar o filme.

É uma coisa que só, que os homens odeiam e que eles não entendem realmente isso, porque eles sempre se viram como os heróis.

Jana: É que também tem aquela coisa da mulher ser feita para servir ao homem, mesmo que sexualmente. Então antigamente ela era retratada de uma forma totalmente sexualizada e para eles isso agradava. Aí quando você tira isso eles se veem desesperados. Porque uma das coisas mais legais desse filme foi justamente isso, não teve essa coisa extremamente sexualizada, ela era uma puta heroína.

Fabi: E faz muita diferença uma mulher dirigir um filme, não é mesmo?

Ro: Sim!

Jana: Exatamente.

Ro: Maravilhoso o filme por sinal. E Capitã Marvel, vocês gostaram?

Jana: Também.

Fabi: Também. Eu amo Capitã Marvel. A Jana me deu uma camiseta da Capitã Marvel, maravilhosa!

Jana: Gostei bastante.

Ro: Teve essa mesma comoção também né? Eu lembro que eu fiquei bem emocionada em alguns momentos do filme e a trilha sonora predominantemente feminina, tem várias coisas que eu acho que para nós que queríamos muito nos ver, nos identificarmos de alguma forma, eu acho que faz muita diferença.

Quando toca Just a Girl na hora em que ela está dando porrada em todo mundo eu fiquei muito emocionada.

Jana: E teve uma coisa que acho que foi ainda melhor do que Mulher Maravilha em Capitã Marvel, que é o fato de ela não ter nenhum romance envolvido. Cara não precisa, não precisa. 

Ro: Sim, verdade!

Jana: Então eu acho que isso é fantástico também.

Fabi: Capitã Marvel eu estou muito ansiosa pela sequência, é incrível e eu achei muito legal quando a gente assistiu Capitã Marvel e depois eu fui conhecer She-ra, aí eu falei porra, parece a história da Capitã Marvel, por quela tava tipo, meio que do errado da história só que ela não sabia né, o desenho da She-ra é isso também, tanto o novo quanto o antigo.O antigo que também tinha o He-man. Na verdade ela foi criada só para ven bem feio.

Jana: Eu adorava…Thundercats…

Fabi: Eu achava a personagem muito estranha, e aí já tinha essa história de estar do lado errado, na Horda do Mal. O negócio é que você não sabe que está do lado errado. 

E aí esse desenho novo da She-ra também é bem legal, vale a pena vocês assistirem, ele também já encerrou e foi criado por uma mulher também, uma mulher lésbica, e ela fala que todo mundo nos desenhos dela é gay se ela não disser o contrário. É muito bom.

Jana: Eu gostaria de indicar um outro desenho que acho maravilhoso principalmente porque ele é bem infantilizado, o personagem principal é masculino mas todo o resto do enredo é feminino, que é o Steven Universo, para todo mundo eu indico, é maravilhoso. Eles tratam o gênero e a sexualidade de uma forma tão sutil, não tem porque ficar questionando para eles aquilo é tão normal que eu acho lindo aquilo ser exibido para crianças, de verdade.

Fabi: É muito importante isso das informações que chegam para as crianças, para serem adultos melhores e ter mais representatividade. Tem esse que você falou, tem o Príncipe Dragão também é interessante, e na própria She-ra eles abordam de forma muito natural  as coisas. Tem dois pais, tem um casal de mulheres e é tudo natural, não existe nenhum tipo de preconceito, tem um episódio que é muito interessante – chega a ser um spoiler,  mas é bem sutil – que é tipo um personagem que tenta esconder dos pais que ele é, não que ele é gay, ele tenta esconder que ele é um cara combativo, só que ele tenta fingir  para os pais que ele é estudioso, então fica fazendo essas anedotas para as crianças, tipo ele é filho de dois pais e tem medo de mostrar para os pais que na verdade ele é um guerreiro e não um cara que fica estudando, e é muito interessante como eles abordam e  fica tudo bem isso no final.

Ro: O filme da Mulher Maravilha, Capitã Marvel e do Pantera Negra também foram marcos no cinema atualmente, mas não foram os únicos e nem os primeiros. Por que vocês acham que nesse momento eles são um divisor de águas? Pela bilheteria talvez? Fabi: Como assim? Porque tiveram filmes como Electra que saiu antes?

Jana: A gente teve o Estrelas Além do Tempo, que eu acho maravilhoso, maravilhoso em todos os sentidos. Retrata a história de três mulheres negras que foram precursoras do código que levou o primeiro homem para a lua, então é muito, muito bom mas não teve tanta bilheteria mesmo.

Fabi: Mas acho que não era disso que a Roberta falou, acho que eu tinha entendido que tinha outras histórias assim no cinema…

Ro: É, por que que eles são considerados marcos no cinema? É por causa da bilheteria, ou é porque é super-herói, blockbuster…se bem que já existiam esses heróis antes. Então o que eu questiono é se vocês acham que esses são divisores de águas ou não? 

Fabi: Eu não sei se são divisores de águas mas eu acho que como eles foram construídos e a abordagem, o roteiro… tem diferença, né. A Mulher Maravilha foi dirigido por uma mulher. Eu acho que isso faz muita diferença, eu não sei seria um divisor de águas mas talvez para uma geração que tá aí nova, são heróis novos. A gente tem os mesmos heróis há muitos anos, né! O Batman aí tá em todas as gerações. Agora Mulher Maravilha – é bem antiga também – mas agora ela foi abordada de forma mais apropriada. Ro: Mas então é porque eu queria falar do teste de Bechdel justamente porque ele surgiu de uma tirinha em 1985 da cartunista Alison Bechdel, e é bem legal não sei se vocês já viram, que são duas mulheres ao cinema e aí uma delas falou que só assiste a filmes se eles cumprirem três regras que ela tem para assistir aos filmes.

Então uma é que deve ter pelo menos duas mulheres, dois – que elas conversem uma com a outra e três – que o assunto da conversa não seja sobre o um homem.

Fabi: É, eu estou vendo aqui a tirinha.

Ro: É legal, não é nada científico, uma regra para filme feministas, mas é interessante que quando você aplica isso a vários filmes, principalmente filmes de super heróis, você começa a entender como que não tem representação das mulherse ou quando tem, a maior parte das vezes elas estão lá para servir à história de um protagonista masculino.

Jana: Como a Viúva Negra, né?

Ro: É, então…esse filme não passa por exemplo.

Fabi: Eu não acompanho muito aos Vingadores, eu vi algumas coisas só. Mas é isso o que você falou, não é uma coisa científica, é o mínimo de se esperar. As mulheres não podem ser só par romântico ou secretárias do Homem de Ferro, por exemplo, que vira um par romântico depois.

Tem muito mais coisas para mostrar.

Jana: Eu gosto, porque eu gosto de super heróis em geral, mas é realmente é o mínimo. E a Viúva Negra é uma baita personagem que não foi explorada como deveria. E eu gosto muito da atuação da Scarlett Johansson, acho que poderia ter sido melhor apresentada.

E uma pessoa que falou muito sobre isso quando recebeu o Oscar foi a Patrícia Archerquette, não sei se vocês assitiram a última série dela, The Act.

Fabi: Ah, eu estava assistindo mas não terminei.

Jana: Eu recomendo até pela atuação, é óbvio que não tem nenhuma personagem ali para a gente se espelhar porque elas são…enfim

Fabi: Ela é uma psicopata né…

Jana: Exatamente. Sociopatas e psicopatas, não é para você se espelhar, mas a atuação dessa mulher é maravilhosa. E da menina que faz a filha dela tamém, eu me esqueci o nome da atriz.

Porque na história da série, é uma mãe que faz com que a filha acredite que é doente para poder receber benefícios do governo.

Fabi: E doação das pessoas também, e é real isso daí.

Jana: É uma história baseada em fatos reais. Então recomendo.

Ro: Eu acho muito legal quando tem uma mulher também, uma protagonista que não é uma heroína, ou que não é uma pessoa boazinha, tipo uma mulher que é badass, ou que é errada. Eu lembro que teve aquela série da Netflix, a Girlboss, que algumas pessoas odiaram, que é baseada na…esqueci o nome dela, a de verdade, mas enfim, é baseada numa história real e as pessoas não gostaram porque ela tinha um caráter que sei lá, decisões duvidosas, ela era meio badass, e aí isso incomodou as pessoas que acham que é porque é mulher tem que ser sempre pura, boa, maternal…

Fabi: É, esse problema do maternal é um grande problema de roteiro de várias coisas, de colocar que só porque você é mãe o único objetivo tem a ver com os filhos, sendo que a vida é muito mais que isso.

Ro: É, uma outra série que tem isso – tem duas séries que eu penso nisso – é legal porque são duas mulheres e com certeza vai passar no teste, uma é Disque Amiga para Matar, que elas também não são boazinhas. Já viram?

Jana: Ah eu adoro! Terminei de ver a segunda temporada ontem.

Ro: Eu não terminei ainda a segunda temporada, mas é bem legal porque elas fazem coisas muito erradas, elas são bem erradas…elas não são boazinhas, elas cometem erros, são mulheres de verdade e elas não são novas também, eu acho isso bem legal, essa representação.

Fabi: Eu vi um seriado que são 3 mulheres e elas começam a traficar. É drama com comédia, elas começam a traficar sem querer, uma das mães tem a filha com uma doença…

Jana: É o Good Girls, Fabi? 

Fabi: É!

Jana: Eu assisti também. Desses tem um novo, aquele Gatunas, não sei se vocês viram… é bem adolescente assim, mas são 3 meninas adolescentes que têm problemas com cleptomania. E aí eles falam a respeito do porquê, sempre tem um fundo psicológico, e aí vai mostrando a vida das meninas. E é legal que tem uma latina, uma negra e uma sapatão branca, é bem inclusivo.

Ro: Também teve a continuação de 11 Homens e um Segredo, não sei se vocês assistiram.

Jana: Sim, não poderia perder a atuação de Cate Blanchett.

risos

Ro: E ai? O que que você achou?

Jana: Eu achei legalzinho, achei um pouco água com açúcar, merecia um pouco mais de roteiro. Tem a Helena Bonham carter, Cate Blanchett…acho que merecia um pouco mais. Mas é legalzinho.

Fabi: Eu acho que vale pelo elenco.

Ro: Esse não foi um que odiaram né. Eu vi outro dia que só de pensarem na ideia de um 007 com uma mulher, a galera…a internet quebrou.

Fabi: Tinha a possibilidade de ser uma mulher, ou uma mulher negra… vai aumentando o hate do pessoal. Ou um homem negro.

Jana: Só falta pôr uma mulher trans pra piorar, para piorar para os haters, claro. Para a gente seria maravilhoso.

Ro: E o agente não precisaria nem ser o James Bond, poderia ser uma outra agente 007, inclusive…mas…

Fabi: É, eu acho que tem roteiro para isso, é mais roteiro do que a Sandra Bullock ser irmã do George Clooney. É só criar um agente 008, sei lá.

Já deu seu tempo homem branco.

Ro: E a ideia não é tipo, não ter mais filmes protagonizados por homens, parece que eles acham que vão ser banidos dos filmes, não é isso. A ideia é só abrir o espaço, e tem tanto né? 

Fabi: Tem espaço para todo mundo, deixa as pessoas poderem curtir as coisas também.

Ro: Sim, no Brasil ainda… você liga a TV e aí só tem gente branca na novela…novela bíblica, não tem o menor sentido, você coloca na novela da Record e só tem loiro de olho claro! Não faz nem sentido histórico, eles não têm nem desculpa.

Jana: Isso é complicado, se for entrar dentro do sentido religioso do país a gente fica maluca porque quase nada faz sentido.

Ro: Sim.

Fabi: Não sei se foi no Brasil ou num outro país vizinho nosso, uma mulher ficou surpresa de ligar a televisão e ver que tudo o que as crianças consumiam não representavam, além do gênero, a cor também. Como que a população pode ser a maior parte negra e não ter personagens negros na televisão.

Ro: Sim, sim, mas espero que seja um caminho sem volta e que as coisas melhorem sempre, não sei se vocês têm essa visão positiva também.

Fabi: É, acho que dá para ter uma visão positiva em relação a isso pelo menos, que no mundo agora não muito. Digo em outros cenários, político, ambiental que estamos vivendo hoje em 2020… nosso país está sendo queimado

Ro: Se não começarem a interferir muito nisso também.

Fabi: Tem que mudar muita coisa, mas eu tenho esperança que quanto a representatividade, isso eu acho que vamos colher bons frutos no futuro, isso forma pessoas, então eu acho que no futuro vai existir mais tolerância, mais respeito e pessoas mais felizes também.

Jana: Acho que a gente até já está colhendo isso, eu tenho duas sobrinhas pequenas de 7 anos, e eu vejo o quanto elas gostam dessas personagens. Tenho outro sobrinho de 13 anos e ele também é um doce de menino, estão sendo criados super bem. Então eu acho que tudo isso que a gente está falando influenciou bastante na personalidade deles.

Ro: Eu acho que é importante, mesmo que seja um pouco forçar que tenha diversidade porque é assim que você forma nova gerações com uma outra mentalidade e até de empoderar mesmo de a pessoa crescer sabendo que ela pode fazer outras coisas que não são aquelas que culturalmente dizem, de que menino só pode brincar de bola e bonequinho de super-homem e menina só pode brincar de Barbie e assistir Sailor Moon. Eu acho legal isso.

Fabi: Até os sobrinhos dela que são pequenos pegaram bem a geração da Disney que agora mudou também um pouco, Moana, Valente, todas as personagens femininas né fortes também e que não tem interesse amoroso. Na verdade a Valente foge disso.

Ro: Mas eu acho que muito disso é pressão das pessoas porque as empresas por si só não dão ponto sem nó, a Disney não faz isso porque se não vendesse nada…

Fabi: A sim, estudam um mercado né e a aquisição de pessoas para trabalhar na empresa, mais mulheres e diversidade dentro da empresa… isso influencia no produto final também.

Jana: Depois que começaram as denúncias também em respeito dos abusos, tanto em termos de mais personagens femininas surgirem, acho que elas também estão um pouco mais seguras para atuarem, imagino que esteja melhor, eu acho que não acabou ainda mas as coisas têm melhorado um pouco e as mulheres estão se unindo mais e isso é algo que a gente não via há um tempo atrás.

Fabi: Elas se fortaleceram, são pessoas consolidadas e que conquistaram muita coisa, e que agora podem dar a cara à tapa, e aí abraçar pessoas que não poderiam fazer isso. É interessante o movimento, é bem forte e espero que coloque todo mundo que precise colocar na cadeia. As pessoas não são objetos, as mulheres não têm que fazer teste do sofá e essas coisas todas têm que ser enfrentadas. Então a gente até vê muitas mulheres duvidando disso também…

Ro: As mulheres tinham que fazer muita coisa, se submeter a muita coisa se quisessem crescer ou subir na carreira e muitas vezes o talento da mulher é colocado à prova porque dizem que é teste do sofá né.

Eu estava vendo outro dia o documentário Feministas: o que elas estavam pensando, e aí tem uma hora em que a Jane Fonda fala sobre o Barbarella que na abertura ela aparece nua né, e ela fala que ela não gostava de ficar nua mas aceitou porque ela, como ela falou, ela aprendeu há só 10 anos atrás que “não” era uma frase completa. Então ela se submeteu, o diretor era muito bom, eu achei que era uma idéia criativa e eu não sabia dizer não.

Fabi: É cultural, mulheres não são educadas desde criança a dizer não. A gente está aprendendo, a sociedade como um todo está aprendendo a se impor.

E tem isso, acho que todo mundo já passou por isso de aceitar menos do que merece às vezes no trabalho. Seja valor financeiro ou fazer algo que não quer mesmo, e eu acho que às vezes as atrizes aceitarem menos pode ser muito pior…degradante, humilhante.

Mas quanto a isso de nudez, a atriz que faz a Daenerys no Game of Thrones…

Jana: Emilia Clarke.

Fabi: É, Emilia Clarke, ela aprendeu a dizer não durante a série, porque ela tinha muito mais nudez antes – desnecessária – tinha muita nudez em qualquer episódio do GOT ou série da HBO, e o problema não é a nudez, é a nudez sem propósito né.

Ro: É só ver que homens não têm tanta quanto mulheres né.

Fabi: Sim, é até uma coisa que eu ia falar. Por que é que não mostram um cara, e a única nudez que teve de um homem no GOT foi uma coisa nojenta. E aí tinha esse negócio da Emilia Clarke falando que aceitava ficar nua desnecessariamente e aí isso foi cortando para as temporadas seguintes, e aí ela chegou a falar recentemente numa entrevista que eles gravavam em alguns países que era muito quentes, que era meio norte da África, ou  Oriente…mais ou menos como era a região representada né, Marrocos acho… e ela falou que os homens tinham nas roupas deles um sistema de ventilação, e nas roupas dela não.

Ro: Que absurdo! Mas isso que você falou dela aprender a dizer não durante a série, infelizmente se ela tivesse dito no começo talvez ela tivesse perdido personagem. Porque ela só conseguiu isso quando o personagem dela cresceu tanto que eles poderiam tirar ela da série simplesmente.

Fabi: Sim é por isso que eu falei que no começo todo mundo já fez algo que não gostaria de ter feito e não é legal a gente passar por isso, se sujeitar a isso.

Ro: Mas isso das roupas eu não sabia, que absurdo…Ah, mas mulher sente menos calor. Já ouviu isso? Quando você trabalha em escritório e homem gosta de ligar o ar condicionado – com vocês deve acontecer também bastante – no talo, super gelado e foda-se né?

Jana: Eu tenho certeza que o cara tá congelando ali de baixo mas ele quer mostrar que ele é macho, então ele precisa aumentar para fazer todo mundo sofrer.

Fabi: Com a pandemia comecei a trabalhar de casa então não tenho passado por isso mais, fica a janela aberta e faz sucesso aqui já. Mas eu sou uma pessoa meio brava e então muitas vezes eu pegava controle mesmo e aí não vai diminuir mais essa temperatura, não dá mais.

Ro: Mas é difícil se impor assim também.

Fabi: Lembro que eu vi uma palestra – faz tempo isso – e foi lá no kung fu, uma palestra sobre a área de esporte, era uma mulher… era irmã da Laerte…não lembro o nome dela.

Jana: Ah, é a Marília Coutinho.

Fabi: Eu acho que era isso, ela era fisiculturista, não sei hoje mais… E aí ela explicou várias coisas que eu cheguei interessante, que a maioria das meninas são condicionadas a ficar quietinhas, imóvel. Você não pode fazer bagunça, você não pode se mexer, a bola é para os meninos, você tem que ficar com a boneca. E isso mexe bastante com seus hormônios também porque você vai se domesticando e quando você praticar a exercícios você mexe com a testosterona também, e isso também te dá algumas coisas para se impor, ou ser mais agressiva. É uma coisa muito cultural mesmo de tentar fazer com que a menina fica quietinha no canto dela, sem sujar a roupinha dela… se comportar como uma dama, né. Mas estamos aqui hoje para mostrar que não é bem assim tá a gente? Vá jogar bola, brincar de heroína, pega sua camiseta vai voar igual a Capitã Marvel. Sem voar né.

Ro: Porque a gente não voa né,

Fabi: Vai pegar uma corda e fazer o laço da mulher maravilha…dá para fazer muita coisa legal.

Ro: Muito legal gente, então é isso. Algo mais para acrescentar?

Fabi: Acho que dá para criar uma lista no Spotify com os filmes que a gente sugeriu e que passam no teste de Bechdel.

Ro: Sim, e além disso a gente tá fazendo agora uma curadoria em que a gente coloca materiais que inspiram, materiais empoderados…e aí a gente pode também falar desses filmes, séries, desenhos…

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E transcrição do podcast no nosso site. Muito obrigada.

Jana: Obrigada!

Fabi: Obrigada!

Ro: Obrigada Fabi, obrigada Jana, obrigada eu mesma. hehe

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Dona Jana é executiva de software com mais de 10 anos de experiência em empresas de tecnologia de estágio inicial a intermediário, incluindo gerenciamento geral, liderança em go-to-market e operações internacionais. Atualmente trabalha como presidente da empresa Odona, uma empresa focada em trazer diversidade para o mercado de trabalho brasileiro. Tem paixão por promover uma cultura inspiradora impulsionada por uma mentalidade de pessoas em primeiro lugar, com o objetivo final de fornecer uma experiência de classe mundial para funcionários e clientes. Estou dedicada a investir no crescimento de outras pessoas, operando com integridade e aproveitando a jornada!

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