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Propósito e Liderança

DonaCast #003 – 19 de maio, 2020

Um bate papo entre Janaina Guiotti, Roberta Fabruzzi e a convidada Sandra Sasaki

Neste episódio super inspirador, falamos sobre o mercado de trabalho, propósito e liderança.



Transcrição

Ro: Bem-vindos a mais um episódio do nosso podcast. Eu sou a Roberta Fabruzzi.

Jana: E eu sou a Janaina Guiotti, e hoje nós vamos falar sobre propósito e Liderança.

Nós convidamos uma pessoa que me inspira muito para conversar com a gente sobre o assunto. Ela é sócia diretora da Duo Comunicação, se formou em administração e se especializou em marketing. Já tem mais de 12 anos de experiência nessa área – Sandra Sasaki, muito bem-vinda, estamos muito animadas por ter você aqui com a gente.

Sandra: Obrigada pelo convite meninas, eu me sinto honrada em poder… estar falando um pouco sobre propósito de liderança, é um assunto assim que é muito interessante para mim, o brilho nos olhos, e eu agradeço aí mais uma vez o convite.

Ro: Sandra, para a gente começar eu queria que você contasse um pouquinho da sua trajetória, como que você chegou até aqui e os desafios que você encontrou nesse percurso.

Sandra: Tá, eu comecei como estagiário numa empresa de Tecnologia da Informação,  uma empresa sueca, e lá eu fiquei por 10 anos trabalhando. E eu cheguei até a parte da gerência de marketing. E aí eu resolvi abrir minha própria empresa.

Eu fiz sociedade com dois publicitários na época, e a gente montou como uma agência mesmo, né. Trabalhávamos por job, fazíamos campanhas e eu fui percebendo que as pequenas e médias empresas, elas tinham o departamento de marketing desestruturado e às vezes chegava assim para gente, briefings de solicitações que não faziam muito sentido,  que não iriam trazer o retorno que eles estavam precisando. E eu comecei a me envolver no negócio deles e com isso eu fui ganhando bastante experiência, porque eram empresas de cosméticos, indústrias de tinta… E cada vez que eu mergulhava, eu aprendia mais sobre negócios diferentes. Aí eu comecei a prestar consultoria para eles, porque às vezes chegava um pedido de um site, de uma campanha, mas muitas vezes sem um  embasamento estratégico por trás. As pessoas não sabiam porque precisavam ter um site ou porque aquela campanha iria fazer sentido, mas iam muito na onda de “ah, está todo mundo fazendo, eu vou fazer também”. 

Então a gente começou a estruturar melhor isso. E aí como esse início estava precisando de uma estruturação, profissionalizar mesmo departamento de marketing que muitas vezes era o dono que não tinha tempo, era o filho do dono, era o departamento de RH que acaba tomando as ações de marketing, eu fui me especializando. E a gente oferecia a terceirização de marketing, então ele tinha todo serviço – não só de agência, mas um pensamento estratégico de marketing por trás. E até hoje eu presto esse tipo de serviço, e  hoje eu também estou migrando um pouco, porque eu também estou buscando empresas que estejam relacionadas à alguma causa, para poder ajudá-las da mesma forma que eu  ajudo essas pequenas e médias empresas na parte de marketing. 

Então também estou enxergando um novo nicho, que são empresas que têm muito amor,  muito coração para fazer as coisas acontecerem e às vezes falta uma visão estratégica de marketing e comunicação. Então eu tô envolvida em alguns projetos nesse sentido também.

Ro: Eu queria saber um pouco da Duo também, dentro dessa sua história, em que ponto que você…e como que você teve a ideia da Duo mesmo.

Sandra: A Duo, ela existe ainda uma empresa aberta, e ela veio de uma sociedade minha com a Mariana Amaral – por isso do nome “Duo”, de “dois”, e a Mariana ela seguiu para virada sustentável e eu fiquei com a Duo. Onde eu me especializei muito na parte de consultoria de marketing. Então a Duo é uma empresa que presta consultoria em marketing para pequenas e médias empresas que estão precisando de uma de uma escrituração nessa área.

Jana: Em algum momento ao longo dessa trajetória você sentiu que o fato de ser mulher pesou para você? Você sente que isso foi uma complicação no dia a dia?

Sandra: Então, a Duo, só voltando então um pouco né, a gente sempre trabalhou de uma maneira diferente. Isso há 7, 8 anos atrás. A gente não trabalha assim de uma maneira… com um escritório fixo, com funcionário CLT. A Duo é formada, ela forma a equipe de acordo com o projeto. Eu trabalho da minha casa, eu tenho um  home-office. Eu atendo os clientes dentro das empresas deles. Justamente porque no momento, há muito tempo atrás quando eu tinha a Duo, eu passei por uma crise também. E eu vi que eu não ia conseguir sobreviver se eu tivesse mantido a minha estrutura física, os meus funcionários CLT. Então a gente trabalha muito por projeto, a gente se une, monta um projeto entrega para o cliente com contrato tudo, e depois o projeto se dissolve. 

Só que a vantagem desse modelo é que eu consigo ter uma empresa mais competitiva,  porque eu não tenho alguns custos fixos para repassar para os clientes, como uma agência que tem uma sede, que têm funcionários, né. 

Então isso aí também é uma vantagem competitiva para a Duo.

E pegando o gancho agora da pergunta da Jana, se eu percebi algum… eu não percebi, Jana. Quando eu acertei esse modelo, foi justamente por ser mãe. Eu tenho dois filhos um de 19 e um com 5 anos e esse modelo me deu muita liberdade para ter mais qualidade de vida e poder criar meus dois filhos muito perto deles. O fato de eu estar em casa e de não ter o tempo de deslocamento para ir para o trabalho fez com que o acompanhasse muito de perto a vida deles. A rotina do trabalho sempre teve muito, mas eu também consegui equilibrar muito a minha qualidade de vida.

Hoje mais ainda do que há 10 anos atrás. Hoje eu coloco assim uma meta eu não vou trabalhar mais do que x horas por dia, nem que eu tenho que abrir mão de algum cliente,  de algum job, mas eu quero ver meu filho crescer, eu quero estar ao lado dele, eu quero acompanhar a lição dele, andar de bicicleta com ele. Porque eu tenho um de 19 e eu sei que tempo passa muito rápido, e se eu não aproveitar cada minutinho com ele, eu vou piscar o olho e ele já vai estar grande e eu perdi um momento muito importante do crescimento dele. Então acho que esse meu modelo, ele me deu mais liberdade, sim.

Jana: É, e só um adendo, eu sempre me motivei muito nesse seu modelo, eu acho que ele funciona tanto que é o que a gente propõe para a Ô Dona também – em trabalhar com projetos por cliente. Eu já trabalhei com você por dois anos, então foi algo que foi uma experiência muito grande para mim, acho que muito do que eu aprendi de tato com cliente mesmo, com certeza eu aprendi com você.

Sandra: Ai, Jana! Obrigada!

Jana: E é verdade, sem encher bola! 

E eu acho muito incrível que você tenha conseguido chegar onde você chegou, ter a sua  família, ser bem sucedida no trabalho, trabalhando sempre com qualidade. E é de verdade  o que a gente busca aqui na Ô Dona também. 

Sandra: Se eu também for olhar para trás, para toda a minha trajetória, eu sou um barquinho pequeno diante de um oceano. Eu não sou uma mega empresa, então qualquer ventania eu chacoalho junto. Então, se eu pudesse dar uma dica é assim: tenha uma reserva financeira, também isso ajuda. Porque nem todo o tempo esse faturamento tá lá  nas alturas. 

Eu também tenho momentos onde eu preciso dar uma recuada, segurar. E quando você tem essa segurança, uma reserva financeira nem que seja por 1, 2 meses,  você fica com mais qualidade de vida, um pensamento mais tranquilo, você consegue discernir melhor o que é melhor para você em relação a tua vida e a tua carreira. Porque eu também já passei por perrengue lá atrás, onde eu era obrigada a fechar trabalho que eu não tava me sentindo feliz entregar, mas eu precisava pagar minhas contas. Só que aí eu pagava as contas e não me sentia bem na minha parte pessoal porque não era uma coisa que tava me realizando. Então assim, sempre que vocês puderem manter um custo fixo baixo, tanto na vida pessoal como na vida profissional, e conseguir fazer uma reserva financeira, dá um pouco mais de alívio para passar por tudo que a gente passa. Por que hoje é o corona, mas também teve a crise da bolsa, também teve várias outras no passado que vieram, e que acabam pegando um pouco a gente.

Ro: Você está falando disso, da questão financeira, e como estamos falando de propósito,  eu queria saber se você acha que é possível então conciliar a carreira e propósito de vida. Quais os desafios disso?

Sandra: O desafio é também um pouco a parte financeira, dá para conciliar? Dá. Dá, tudo dá. O que é que eu tô fazendo também na minha vida para conseguir conciliar? Quando eu falo que eu abri mão de ter um escritório, de ter… é abrir mão. Porque, dentro da escola que eu venho – eu tenho 45 anos – dentro da escola que eu fui formada, o que é que é sucesso? Sucesso é você seu nome de uma empresa por trás, “eu sou Sandra da empresa XYZ”,  todo mundo conhece a empresa XYZ. Só que tem um preço muito grande para se pagar por isso. Tem gente que foi “setada” para o mercado corporativo e eu não condeno,  cada um está onde tem que estar. O meu lugar era estar fora desse mercado. 

Eu gosto de ter um tempo a mais com a minha família, eu gosto de poder dar uma emendada no feriado e estar numa praia, eu não vou mentir. Isso no passado era feio de se falar, né? “Nossa, sua fracassada”. Hoje em dia eu falo com o maior orgulho que eu trabalho em casa, antigamente eu tinha vergonha “aí filho, fica quieto pelo amor de Deus porque o cliente não pode saber que eu estou atendendo ele de casa”, hoje em dia…

Ro: Agora é moderno, é tendência.

Sandra: Exatamente, eu já estou nessa tendência há um tempo. Mas antigamente, não era confortável, vou te dizer. Lembra Jana, que a gente tinha uma central de telefone para atender e transferir para a gente? Só para não parecer que a gente atendia de casa.

Jana: Lembro.

Sandra: Porque infelizmente, o corporativo não valorizava. A impressão que dava é que você era uma empresa fundo de quintal, que não tinha competência de ter um escritório, de ter funcionário, uma mambembe, uma dona de casa. Era essa a impressão que você passava há alguns anos atrás. Graças a Deus tudo isso está mudando. Estou muito feliz com isso.

Mas voltando à pergunta, dá para conciliar? Dá para conciliar. Eu estou tendo que fazer algumas mudanças na minha vida. E uma das mudanças é baixar meu custo fixo.

A gente vai conseguindo as coisas materiais e a gente vai se acostumando. É gostoso ter o carro do ano, é gostoso viajar para caramba, é gostoso não precisar fazer comida e comer fora quando você quer. Tá, mas e aí? E o preço que eu tenho que pagar por isso?

É uma delícia, mas e o preço? Está valendo a pena? Ou eu estou muito cansada? Tinha vezes que eu falava “poxa, mas será que tá valendo a pena, cara? Eu estou trabalhando para caramba! Estou tendo tudo o que eu quero de bens financeiros mas eu estou me esgoelando de trabalhar e não está fechando a conta no final.”

Então, o que que eu estou vendo, meninas…eu estou desacelerando em relação ao consumo. Será que eu preciso de tudo isso que eu acho que eu preciso?

Será que eu preciso ter tanta roupa, gastar tanto com comida, com restaurantes…

O que é que me dá prazer? Me dá prazer o contato com a natureza. Me dá prazer ficar com os meus filhos.

Ah, legal, então é isso o que te dá prazer? Quanto que você precisa para estar em contato com a natureza? Quanto que você precisa para estar com teus filhos e vai revendo os teus valores. Vai pensando que o menos é mais.

Eu não quero viver a vida trabalhando para pagar conta. E se eu tenho um custo fixo alto é assim que eu vou me ver daqui a pouco, entendeu?

Quando você faz 45 anos, meninas, parece que dá um clique do tipo: eu não tenho mais muito tempo, eu não tenho mais 20 anos, que eu consigo, aí vou e volto…não. Eu quero isso agora  e eu vou atrás disso. E eu quero qualidade de vida e contato com a natureza. E em breve eu vou estar fazendo uma outra mudança aí na minha vida, eu quero morar perto do mar e eu vou morar perto do mar.

Então para isso acontecer eu estou mudando muita coisa na minha vida, eu tô cortando muita coisa na minha vida. Eu estou pensando em que tipo de cliente eu vou conseguir atender, onde eu vou morar, quanto eu vou precisar ter para morar lá, e estou mudando minha vida em relação a isso, porque eu quero trabalhar com propósito, quero trabalhar com empresas de causa. Só que nem sempre essas empresas me remuneram como uma indústria do corporativo, uma empresa de serviço grande, do corporativo que eu atendia no passado.

Os valores dos contratos diminuem. Mas tá tudo bem, tá tudo bem porque eu também estou diminuindo a forma como eu consumo, como eu enxergo esse padrão de consumo, e tá ótimo!

Esse confinamento está sendo ótimo porque eu tô vendo o quanto desperdício eu tinha na minha vida, e que eu falava “imagina!”, sabe aquelas mentirinhas que a gente conta para a gente mesmo? “Não, eu não jogo comida fora! Eu? imagina! Quanta gente morre de fome, você acha que eu jogo comida fora?”. Eu jogo, eu percebi que eu jogo muita comida fora. E fiquei com vergonha de ver quanto a comida fora eu jogo, nesse período confinada em casa. “,Ah, imagina, eu não gasto muito com comida, com restaurante!”, gasto. Gastava,  porque agora eu tô vendo o quanto eu gastava com comida e quão prazeroso é você preparar seu próprio alimento e para sua família. Dá trabalho? Dá, descascar dá trabalho…  mas, gente, eu tô com tempo agora!

Então eu tô vendo muita coisa que é mentira que eu contava para mim mesma. Eu estou  com um espelho aqui na minha frente agora. Não dá para “ai, eu tô ocupada agora, não dá para eu fazer uma comida e eu vou pedir uma pizza”, não, eu tô com tempo agora. Então vamos fazer comida juntos aqui, todo mundo. E é isso meninas, esse é meu movimento agora. Menos é mais.

Jana: É muito legal ouvir tudo isso e perceber que apesar de tudo isso que a gente tá passando por causa do corona, tem alguns aprendizados que a gente pode ter. É óbvio que a gente é bem privilegiado né, porque a gente pode ter isso, e tem muita gente que não pode, mas infelizmente a gente não tem como falar por eles agora.

Eu tenho uma pergunta sobre os seus clientes, porque você sempre diz que tá lidando com clientes mais de causa, e você sente muito orgulho disso, eu já te ouvi falando várias vezes. Eu queria saber como é trabalhar assim com clientes que têm um propósito, como que isso acontece? É naturalmente que esses clientes vêm para você ou você que procura por eles? Conta para a gente como isso acontece.

Sandra: Jana, nada na minha vida foi planejado, nem nos meus filhos foram planejados. Então assim, eu não sou uma pessoa que planejou ser empresária, que planejou ter uma carreira. Eu acredito muito que a vida me dá o que eu mereço e eu me sinto muito privilegiada mesmo, eu falo “nossa quanto presente eu recebo, né!” O que é bonito é você ver também que é presente, porque tem gente que recebe presente todo os dia e não enxerga que é um presente, ainda continua com a visão escassa e reclamando da vida. Então eu sei que eu sou uma pessoa muito privilegiada, eu recebo presente todo dia.

E esses clientes aparecem, às vezes com mínimo esforço. Eu acredito que quando você está dentro de um fluxo, com mínimo esforço as coisas vão acontecendo e  vão se encaixando na sua vida. É uma amiga que te apresenta, é um retiro que eu fui e aí eu levantei a mão e falei cara de comunicação, e me coloquei à disposição e a pessoa chegou até mim. Então as coisas vão acontecendo de uma maneira mais suave dentro de um fluxo, e eu amo meus clientes, porque eu aprendo todos os dias com eles, todos os dias.

Eu mudo a minha vida por conta deles.

Eu tenho uma cliente, que ela trabalha com resíduo – Casa Causa – gestão de resíduos. Aí foi onde eu vi como eu jogo comida fora, e como que eu trabalho na comunicação de uma empresa que fala de desperdício se eu sou um desperdício? Eu não posso ser falsa, eu não posso ser uma fraude. Então eu quero mudar minha vida mesmo. Se eu tô ajudando ela a se comunicar, se ela faz uma gestão equilibrada da separação dos resíduos da casa dela,  eu também vou fazer na minha porque eu acredito nisso. Eu tô trabalhando com causa,  então todas as causas que eu estou trabalhando na comunicação, eu acredito. E se eu acredito eu vou mudar a minha vida, né? Para para melhor.

Então é por isso que eu falo que eu aprendo com cada um deles.

Ro: É até para ter uma coerência né? Entre o que você fala e o que você faz.

Sandra: Exatamente, exatamente. Tem que ter essa congruência. Porque senão eu vou estar sendo, falando, comunicando uma coisa fazendo outra. É o que acontecia muito no corporativo, às vezes você não acreditava, o dono explorava funcionário, você via a forma como ele tratava os fornecedores, era podre, era horrível,  e você estava lá ajudando ele a ter uma marca bonitinha para vender mais. Cara, que que é isso gente? Não dá, isso estava acabando com a minha saúde. 

Então eu tive que fazer essa virada de chave logo, porque senão eu ia adoecer como muita gente adoece no mercado corporativo que a gente vê. Óbvio, eu não estou falando que todo mundo está no corporativo é vilão. Não gente, a gente precisa do corporativo, não dá para ter uma visão otimista, Poliana da vida. A gente precisa da pessoa do varejo, que a gente sabe a máquina de moer carne que é o varejo, mas a gente precisa. A gente compra comida onde? No mercado! É um varejão. Tem que ser humano ali, então assim, graças a Deus tem pessoas que enxergam o propósito delas também é trabalhar com esses seres humanos, para transformar a vida deles em uma coisa mas suave dentro de um mercado tão competitivo. Tem gente que é o propósito deles ali, e é lindo, que bom! Graças a Deus! E eu gosto de trabalhar com clientes também que têm um propósito mais espiritual, de elevação da consciência, ajudar as pessoas a terem acesso a uma aula, a uma tendência  mais espiritual, que às vezes você nem sabe que existe. O lixo também, nossos resíduos, o que a gente produz de resíduo é assim, é um absurdo isso. E a gente pode ver nossos padrões de consumo através de que a gente gera de resíduos, então por isso que eu também estou mudando isso.

Ro: Falando de propósito, porque a gente da Ô, Dona também nasceu com um propósito que está mais ligado ao empoderamento da mulher e liderança no mercado de trabalho. E aí eu queria ler para vocês um precinho de uma entrevista da Cristina Junqueira que é cofundadora do Nubank, e ela diz assim: “Apesar de hoje já termos algumas referências de mulheres ocupando altos cargos de liderança nas empresas/autarquias, eu sempre fui uma das poucas, se não a única, em todos os times pelos quais passei até chegar ao Nubank, e certamente isso tornou as coisas ainda mais desafiadoras. Por isso, meu principal conselho para mulheres que têm a ambição de assumir posições de liderança é: sua carreira não pode esperar a igualdade chegar”.

E aí eu queria saber a opinião de vocês em relação a isso, o que a mulher pode fazer para não esperar a igualdade chegar? Vocês acham que criar seu próprio negócio é um meio para isso? Eu queria ouvir a Sandra, eu queria muito ouvir o que é Sandra pensa sobre isso, mas eu também queria ouvir a Jana nessa pergunta, porque foi a Jana que teve a ideia de criar a Ô, Dona.

Sandra: Eu acho que não necessariamente abrir uma empresa, eu acho que esse lance da mulher retomando esse poder que há muito tempo nos foi tirado, isso é histórico. Eu até brinco, o pessoal fala “poxa meu, só ficam falando de empoderamento feminino, empoderamento feminino”, e aí eu lembro muito de… sabe aquele pêndulo que você está aqui e aí quando você solta você vai para cá. Só que o eixo é aqui, o eixo é o meio. Só que  como a gente ficou muito tempo aqui, nessa desigualdade, a gente tá passando e vai para lá, vai bater lá, até a gente chegar na igualdade. Por isso que a gente tá falando muito de empoderamento feminino, da força da mulher… precisa, porque tem muita mulher que precisa, a gente tem que ter essa força agora. Mas não estamos equilibrados, não estamos equilibrados, a gente precisa achar esse equilíbrio, a gente precisa da força masculina. O  masculino e o feminino têm que estar em total harmonia. A gente tem isso dentro da gente. Se não é a força do masculino, esse poder de realização nosso, é a nossa energia masculina. Agora, o acolhimento, o amor, o sentimento, a sensibilidade é o feminino.

A gente tem que ter equilíbrio, porque se não a gente vai ficando… às vezes a gente conhece pessoas que não consegue realizar…mulheres que não conseguem concretizar aquele sonho, é porque falta a energia masculina. Então o equilíbrio pra mim é a melhor forma.

Só que como a gente veio de anos de luta, de vó, de bisavó, de toda uma geração calada e  amordaçada, então agora a gente tá gritando. E tem que gritar mesmo, tem que botar para fora tudo isso. Eu acho que a mulher tem que achar o poder dentro dela, o que é que empodera ela.

E não existe uma receita de bolo, o que me empodera não necessariamente é o que empodera as outras. Para mim fazer um bolo empodera, porque eu tô dona do meu tempo,  olha que louco! Como assim, fazer um bolo? Voltar a ser dona de casa? É, me empodera  porque eu fiquei tanto tempo trabalhando para os outros, que quando eu falo “agora e vou dedicar meu tempo para mim” me empodera. Então a gente achar esse equilíbrio dentro de cada uma, fazer a nossa voz valer a pena. É isso.

Jana: O meu ponto é parecido com o da Sandra, e eu entro até na questão do propósito aí. Eu acho que a gente não precisa abrir a própria empresa também para mostrar que a mulher tem força que a gente pode conseguir força de outras maneiras, a gente tem que ter voz a gente tem que aprender a brigar pelos nossos direitos e não só abaixar a cabeça e aceitar o que as pessoas dizem. Acho que o meu ponto quando eu pensei na Ô, Dona, foi porque eu sempre tive um lado político muito pulsante dentro de mim, então a minha ideia com a Ô, Dona era ajudar outras mulheres a ter renda extra, e eu sei que para mulheres para mães e enfim, que não têm tanto tempo tempo livre… e como os homens, essa questão do dinheiro, essa questão financeira sempre pega um pouco mais. Então a ideia da Ô, Dona foi essa, foi de explorar ao meu lado político também e dizer que nós temos voz e dar mais oportunidade para as mulheres porque como a Sandra disse, a gente ainda tá em um mundo bem aqui desiquilibrado, a gente está buscando esse equilíbrio. E sim, a gente precisa continuar falando disso enquanto esse equilíbrio não for alcançado. Esse é o ponto.

Então o empoderamento ele vem muito disso, né, a gente está buscando um propósito para fazer as coisas funcionarem de maneira equilibrada. E a gente continua falando dessas  teclas porque ainda não está, não está equilibirado. Acho que a hora que as coisas fluirem mais naturalmente, que tiver de fato esse equilíbrio, a gente não vai mais precisar falar sobre sobre minorias no geral, porque ninguém vai mais ser visto como um minoria. Mas a gente ainda tá lá longe de chegar nesse ponto, mas enfim… não acredito não, que uma mulher precisa abrir uma empresa para crescer como mulher, mas é óbvio que as mulheres precisam ter mais voz, isso é muito claro para mim.

Ro: Sandra, temos falado bastante de propósito, e você falou dos seus clientes, eu queria saber se nesse tempo que você tem trabalhado para alavancar esses clientes que tem um propósito maior, o que você aprendeu? 

Sandra: Bom, fora o negócio deles que me encanta e eu aprendo muito com o negócio deles, né, e que muda a minha vida, eu na verdade não aprendi tudo. Eu tô aprendendo ainda, tem muita coisa ainda que eu preciso trabalhar dentro de mim, que é lidar com os meus medos, lidar com a minha insegurança, e eu acho que eu estou trilhando aí um caminho… tudo é um caminho, eu não cheguei nenhum lugar, eu tô caminhando ainda. Estou indo, cada conquista eu agradeço, mas eu acho que se olhar para trás eu sinto muito orgulho de tudo que eu fiz, de tudo que eu conquistei, dos caminhos que eu trilhei, trilhei caminho errado mas é ótimo, me deu força agora para eu saber o que é que é bom para mim.

E continuo aí, eu acho que enquanto a gente tá vivo a gente tá aprendendo e ainda tem bastante coisa para aprender.

Jana: Então é isso, Sandra, muito obrigada mesmo por esse bate-papo. Uma boa parte do nosso propósito da Ô, Dona é inspirar mulheres a serem livres e buscarem seu lugar também, como nós fazemos, e é muito bom quando a gente pode ver alguém tão realizada e feliz com o trabalho como você. Então você é uma das nossas inspirações, agradeço muito!

Sandra: Obrigada meninas e se eu posso também deixar um recado é o seguinte: às vezes a gente fica com um modelo idealizado do que essa é uma mulher líder, uma mulher independente também, mas vai para dentro de você: o que é ser uma mulher independente para você, e não o que a mídia coloca. Veja o que é que é bom para você, porque a gente não pode se transformar em homens, nós somos mulheres, a gente sangra todo mês, a  gente tem filho, a gente precisa de pausas e isso faz parte de reconhecer quem nós somos. Então a gente não pode se transformar em homem para achar que a gente tem que ser igual a eles, a gente não é igual, a gente é mulher. 

Dentro dessa mulher, dentro desse feminino o que é que está te faltando de poder? Vá atrás disso. Mas cada uma tem a sua questão, a gente não é igual a outra. Se equilibra  dentro de você primeiro para depois ir para fora. É essa dica.

Ro: Ah, que legal! Nossa, muito obrigada! Muito mesmo!

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Ro: Sigam a Sandra! Sigam a Ô, Dona também! Obrigada!!! Adorei, obrigada mesmo!

Sandra: Obrigada!

Jana: Obrigada meninas! 



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Dona Jana é executiva de software com mais de 10 anos de experiência em empresas de tecnologia de estágio inicial a intermediário, incluindo gerenciamento geral, liderança em go-to-market e operações internacionais. Atualmente trabalha como presidente da empresa Odona, uma empresa focada em trazer diversidade para o mercado de trabalho brasileiro. Tem paixão por promover uma cultura inspiradora impulsionada por uma mentalidade de pessoas em primeiro lugar, com o objetivo final de fornecer uma experiência de classe mundial para funcionários e clientes. Estou dedicada a investir no crescimento de outras pessoas, operando com integridade e aproveitando a jornada!

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